A Paz do Senhor
Prezados irmãos, no espaço “Estudos” nós iniciaremos uma série de estudos bíblicos, para melhor compreensão dos Artigos de Fé. Este é o segundo da série de dezenove estudos programados.
Introdução
Deus é um ser de tal magnitude , que
ninguém pode no passado , ou no presente e nunca poderá no futuro , desvendá-Lo
,compreendê-Lo ,entendê-Lo ou descrevê-Lo como se o Mesmo fosse parte das
coisas criadas. Quando um homem se sente no direito e com a capacidade de
explicar a Divindade , já demonstra a sua ignorância sobre o tema. Em todas as
épocas que isso foi tentado apareceram heresias, demonstrando a total
incapacidade do homem em tentar compreender a Divindade, e não aceitar pela fé
, conforme revelado nas Escrituras; e seguir as orientações do Espírito Santo.
Pois o primeiro cuidado que
devemos ter em mente é que, a nossa mente, a nossa lógica e os nossos
pensamentos são finitos , e Deus é por definição infinito; são conceitos
excludentes . dentro dessa realidade temos que nos submeter à uma lógica
espiritual , cujas premissas nem sempre são coincidentes com a lógica humana,
filosófica ou em alguns casos até mesmo com a lógica teológica.
¨A Existência
De Deus ¨ ( ¹ )
A Bíblia não procura oferecer-nos
qualquer prova racional quanto a existência de Deus. Pelo contrário: Ela já
começa tomando a sua existência como pressuposição básica: ¨No princípio ,
Deus¨ ( Gn 1.1 ). Deus Existe! Ele é o ponto de partida. Por toda a Bíblia há
evidências substanciais em favor de sua existência. Se de um lado ¨disseram os
néscios no seu coração: Não há Deus¨ ( Sl 14.1 ); por outro: ¨ os céus
manifestam a glória de Deus,e o firmamento anuncia as obras das suas mãos¨ ( Sl
19.1 ). Deus se tornou conhecido mediante o seu ato de criar e de sustentar
tudo quanto existe. Ele dá vida , alento ( At 17. 24-28 ), alimento e alegria (
At 14. 17 ).
Essas ações são acompanhadas por
palavras que interpretam o seu significado e relevância, favorecendo um
registro que explica sua presença e propósito. Deus também revela a sua
existência através do ministério dos profetas, sacerdotes , reis e servos fiéis.Finalmente,
Deus se revelou claramente a nós mediante o Filho e por intermédio do Espírito
Santo que em nós habita. Os que , entre nós, acreditam que Deus haja se
revelado nas Escrituras , descrevem a Deidade única e verdadeira tendo como
base sua auto-revelação.
Vivemos , todavia, num mundo que
, via de regra, não aceita esse conceito da Bíblia como fonte primária de
informação. E são muitas as pessoas que preferem confiar na engenhosidade e
percepção humanas para lograrem alcançar uma descrição particular da
Deidade. Para acompanharmos os passos do apóstolo Paulo na obra de se conduzir
a humanidade das trevas para a luz, precisamos ter consciência das categorias
gerais dessas percepções terrenas. Sob o ponto de vista secular de se
entender a história, a ciência e a religião, a teoria da evolução tem sido
aceita por muitos como fato fidedigno. Segundo esta teoria , à medida que os
seres humanos foram evoluindo, também evoluíram suas crenças religiosas e seus
modos de expressá-las. A religião é apresentada como um movimento que parte de
práticas e crenças simples para as mais complexas.
Os seguidores da teoria da
evolução dizem que a religião começa no nível do animismo ( A crença de que
poderes sobrenaturais, ou espíritos desencarnados, habitam nos objetos naturais
ou físicos. Tais espíritos, segundo as suas próprias vontades malignas , teriam
influência sobre a vida humana ) . O animismo evoluiu-se até transformar-se no
politeísmo simples, no qual certos poderes sobrenaturais são considerados
deidades. O passo seguinte , ainda segundo os evolucionistas, é o henoteísmo:
Uma das deidades atinge uma posição de supremacia sobre todos os demais
espíritos, e é adorada em detrimento das outras. Segue-se então a monolatria,
quando as pessoas optam por adorar um só dos deuses , sem , porém, negar a
existência dos demais.
A conclusão lógica ( segundo essa
teoria ) é o monoteísmo que surge somente quando as pessoas evoluem-se ao ponto
de negar a existência de todos os demais deuses e de adorar uma única deidade.
As pesquisas realizadas pelos antropólogos e pelos missiologistas neste
século , demonstram com clareza que essa teoria não é corroborada pelos
fatos históricos, nem pelo estudo cuidadoso das culturas
¨primitivas¨contemporâneas. Quando os seres humanos criam um sistema de crenças
segundo os seus próprios desígnios, ele não tende a se desenvolver em direção
ao monoteísmo, mas, sim, ao animismo e a crença em vários deuses. A
tendência é cair no sincretismo, acrescentando-se a este deidades recém-descobertas
ao conjunto das que já são adoradas.
Em contraste com a evolução ,
temos a revelação. Servimos a um Deus que tanto age como fala. O monoteísmo não
é o resultado do caráter humano evolucionário , mas do desvendamento que Deus
fez de si mesmo. A revelação divina é progressiva na sua natureza à medida que
Deus se revelou através dos registros bíblicos . Já no dia de
Pentecostes, após a ressurreição e ascensão de Cristo, temos a prova de
que Deus realmente se manifesta ao seu povo em três Pessoas distintas.
Nos tempos do Antigo Testamento,
porém , a prioridade era estabelecer o fato de que há um só Deus em
contraste com os inúmeros deuses cultuados pelos vizinhos de Israel, em
Canaã, no Egito e na Mesopotâmia. Através de Moisés , essa verdade
foi proclamada: ¨Ouve, Israel, o SENHOR , nosso Deus , é o único SENHOR¨ ( Dt
6.4 ). A existência de Deus e a sua atividade contínua não do seu
relacionamento com qualquer outro deus, ou criatura. Pelo contrário: nosso Deus
podia simplesmente ¨ser¨, optando por chamar o homem a estar ao seu lado ( não
porque Ele precisasse de Adão , mas porque este precisava de Deus ).
O Ser De Deus ( ² )
É verdade que as Escrituras nunca
discutem o Ser de Deus separadamente dos seus atributos, visto que Deus é
aquilo que Ele se revela ser. É possível, no entanto, conceber o Ser de Deus em
relação com o nossos próprios seres, quer em termos de semelhança
quer em termos de contraste, ainda que a sua essência tenha que permanecer
incompreensível para nós. Podemos dizer que Deus é Espírito, é Puro, é
Pessoal e é Espírito Infinito.De conformidade com a revelação de Cristo à
mulher samaritana, Deus é Espírito ( Jo 4.24 ), e precisamos concebê-lo
como Espírito Puro no sentido que Ele não é complexo ou composto por partes,
ainda que sem corpo ou presença corporal ,sendo, portanto, invisível e
imperceptível para os sentidos físicos Jo 1.18 . Fica igualmente claro pelas
Escrituras que Deus é um Espírito racional , auto – consciente,
auto-determinador, um agente moral inteligente. Deus é a Mente suprema e a
origem de toda a racionalidade em suas criaturas.
Deus é Espírito Infinito , sem
fronteiras ou limites tanto quanto ao seu Ser como aos seus atributos, e cada
aspecto e elemento de sua natureza é infinito. Essa natureza infinita , em
relação ao tempo, é chamada de eternidade, e em relação ao espaço é chamada
onipresença . Em relação ao universo , ela implica tanto em transcendência como
em imanência. Por transcendência de Deus se entende que Ele está separado de
toda a sua criação como um Ser independente e autoexistente. Ele não está
limitado pela natureza, mas existe infinitamente exaltado sobre ela. Até mesmo
aquelas passagens das Escrituras que salientam Suas manifestações temporais e
locais dão ênfase à Sua exaltação e Onipotência como Ser externo ao mundo como
seu soberano Criador e Juiz ( Is 40. 12-17 ).
Por imanência de Deus se entende
Sua presença difundida e Seu poder dentro de Sua criação. Deus não fica
apartado do mundo , como se fosse um mero espectador das obras de Suas mãos; mas
interpenetra cada coisa orgânica e inorgânica , agindo de dentro para fora,do
centro década átomo e das fontes mais íntimas do pensamento , da vida e dos
sentimentos, uma sequência contínua de causa e efeito. Em Is 57. 15
temos uma expressão de transcendência de Deus: `` o Alto , o Sublime, que
habita a eternidade , o qual tem o nome de Santo´´ , bem como de Sua imanência
como Aquele que habita `` também com o contrito e abatido de espírito´´.
O Caráter
De Deus ( ³ )
Se Deus é uma Pessoa então Ele é um
agente moral que possui caráter. Assim sendo , podemos falar sobre os
`atributos´ de Deus, referindo-nos às qualidades que podemos atribuir ao
caráter divino. Embora não exista atributo que possa expressar adequadamente o
Ser de Deus , contudo muitos dos atributos apresentados nas Escrituras servem
ao propósito de transmitir uma digna impressão tanto de Sua transcedência
como de Sua imanência. Todavia , precisamos trazer sempre em mente o fato que
os atributos de Deus pertencem à própria essência do Seu Ser , e que , dessa
maneira , são co-extensivos com Sua natureza. Em outras palavras , em
Deus atributos e ser são uma só coisa. Isso não é assim no caso do homem.
Os atributos do caráter humano
visto que o homem é finito são sujeitos á limitações. No homem há diferença
entre ser , viver , conhecer e querer , e o máximo que podemos esperar é
que essas coisas sejam bem equilibradas no indivíduo. Em Deus, pelo
contrário , os Seus atributos são todo-difundidos , e cada um deles é infinito
e não conhece limitação. Por exemplo não podemos dizer que Deus é parte
amor e parte justiça, pois Ele é todo amor e todo justiça. Cada
atributo por si mesmo é Deus, e Deus é completamente expresso por cada um dos
Seus atributos .
Novamente, o homem permanece homem
mesmo que não possua certos atributos humanos ; Deus já não seria Deus
sem todos os Seus atributos. Tem sido achado conveniente classificar os
atributos de Deus em duas espécies --- comunicáveis e incomunicáveis ( algumas
vezes chamados relacionados e não – relacionados, respectivamente ). Os
atributos comunicáveis são aquelas qualidades que podem, em certa medida, ser
transmitido às Suas criaturas racionais e morais , tais como sabedoria, amor,
ou seja, atributos que expressam a imanência de Deus.
Os atributos incomunicáveis são
aquelas perfeições divinas que não encontram analogia no caráter humano, tais
como auto-existência, imutabilidade, onisciência, eternidade, ou seja, os
atributos que salientam a Sua transcedência. Esses são capazes de definição
pelo menos em parte. Por auto-existência de Deus queremos dizer que
ele possui existência independente devido á própria necessidade do Seu Ser,
diferentemente de Suas criaturas, Ele não depende de ninguém fora de Si
mesmo para continuar existindo. Por Sua imutabilidade queremos dizer que
Ele não conhece qualquer alteração em Seu Ser, perfeições, propósitos e
promessas. Todas as sugestões de alteração que as Escrituras Lhe atribuem são
figuras de linguagem, acomodações ao nosso ponto de vista humano. Por Sua
eternidade queremos dizer que Deus está acima de qualquer limitação de tempo,
sem princípio e sem fim , e sem sucessão de momentos. Isso pode ser mais
facilmente compreendido se lembrarmos que o tempo não existe por si mesmo, mas
é um acompanhamento inseparável da existência criada.
Em Deus não existe nem tempo nem
nem início de ser. Ele é o eterno ` Eu Sou ´ , e Seu presente é a
eternidade. Por onisciência e onipresença de Deus queremos dizer que Ele
está acima das limitações de espaço. O conhecimento de Deus faz parte de Sua
própria natureza , e não é adquirida como a nossa. Seu conhecimento ,
portanto, é completo e absoluto , e se estende para o passado e para o futuro.
A onisciência traz juntamente consigo a onipresença , visto que o conhecimento
de Deus envolve a presença de Deus em todos os lugares e em todos os tempos.
Não é tanto que Deus esteja em todos os lugares ; Ele é Todos os
Lugares . Além disso , Ele está inteiramente , e não apenas parcialmente,
presente Em todos os lugares. Por onipotência de Deus queremos indicar algo bem
diferente do poder que o homem possui.
No homem, o poder é um esforço da
vontade que emprega ou lança mão de poder pré-existente; em Deus o poder é um
atributo criador, é a energia que faz surgir a criação do nada. Em Deus
todo o poder é criador. Pode-se dizer que a santidade é o atributo distintivo
por excelência de Deus, o resplendor de tudo quanto Deus é . É a Sua santidade
que o separa particularmente de toda a Sua criação --- pois somente Ele é santo
--- e isso o torna inabordável em todas as Suas perfeições. É seu
esplendor intelectual e moral, a pureza ética em virtude da qual Ele se deleita
no bem e abomina o mal.
A Vontade De
Deus ( ¹ * )
A vontade de Deus expressa
primariamente Seu atributo de auto-determinação mediante o qual Ele age de
conformidade com Seu eterno poder e Deidade. Embora não se possa dizer
que a vontade de Deus está limitada seja em que sentido for , Suas perfeições
asseguram que Ele nunca desejará qualquer coisa incompatível com Sua
natureza. Os teólogos distinguem entre a vontade decretiva de Deus, pela
qual Ele decreta tudo quanto deve acontecer, e Sua vontade preceptiva ,
mediante a qual Ele ordena às Suas criaturas os deveres que lhes
pertencem. A luz dessa definição , pode-se compreender que a vontade
decretiva é sempre realizada, enquanto que a vontade preceptiva é
frequentemente desobedecida.
Quando imaginamos o alcance
soberano da vontade divina, reconhecemos que ela apresenta Deus como fundamento
final de toda existência e de tudo quanto acontece, ou fazendo ativamente cada
coisa suceder, ou passivamente permitindo que certas coisas aconteçam.
Assim é que a entrada do pecado no mundo é atribuída à vontade permissiva de
Deus. As características da vontade de Deus são tais que por traz dela
existem sabedoria infinita e santidade, que ela é graciosa e bondosa em
sua operação , e que ela é incondicional em Suas ações por não ser dependente
de qualquer coisa fora do próprio Deus. Sua finalidade é declaradamente a
Sua própria glória , o que, dito em outras palavras, é a manifestação de Sua
glória, na qual jaz a bem-aventurança completa de Suas criaturas.
O aspecto da vontade de Deus mais
aludido nas Escrituras é o Seu propósito soberano. O propósito de Deus é
todo- abarcador e todo- compreensivo. Isso se origina na própria natureza
de Deus, visto que o seu conhecimento é imediato e completo e que Ele não
necessita esperar pelo desenrolar dos acontecimentos como nós . Dessa maneira ,
Ele é capaz de abarcar tudo num único plano compreensivo. É dito na
Bíblia que Seu propósito é livre, soberano e imutável – livre no sentido que
não pode estar debaixo da influência de qualquer coisa nem de ninguém
fora Dele mesmo; soberano em vista de Deus possuir o poder de levar a
efeito os seus propósitos; imutável visto que não pode haver variação em Deus ,
pois qualquer variação deixaria subentendida falta de sabedoria no
planejamento, ou falta de poder na execução. Segue-se por conseguinte ,
que visto não poder haver emergência imprevista nem qualquer falta de meios
adequados, as causas de alteração não tem origem Nele.
Se não somos capazes de
reconciliara soberania de Deus com a responsabilidade humana, é porque não
compreendemos a natureza do conhecimento divino e Sua compreensão sobre todas
as leis que governam a conduta humana. A Bíblia do princípio ao fim
ensina que a vida inteira é vivida no poder sustentador e mantenedor de Deus,
``pois Nele vivemos , e nos movemos e existimos ´´ , e assim como um pássaro é
livre no ar e como um peixe é livre no mar , cada qual em seu elemento nativo,
semelhantemente o homem tem sua verdadeira liberdade na vontade de Deus, que o
criou para Si mesmo.
A
Paternidade De Deus ( ² * )
A revelação cristã sobre Deus é que Ele
é supremamente um Pai.Essa era a designação de Deus mais comum nos lábios de
Jesus. Na teologia cristã a designação `` Pai ´´ é reservada especialmente para
a Primeira Pessoa da Trindade. Porém , visto que a Primeira Pessoa é
reputada como a fonte da Deidade , Aquele que representa a dignidade , a honra
e a glória da Trindade , essa designação é algumas vezes empregada em
referência a à Deidade ou ao Deus Supremo ( I Ped. 1.17; Tg 1.27; também Is
9.6, onde o Messias é chamado de `` Pai da Eternidade´´, como designação
Da Deidade suprema ).
O conceito de Deus como Pai não
se originou com o ensinamento de Jesus, embora Ele lhe tenha dado uma nova
profundeza e significado. Esse pensamento também se faz presente no Antigo
Testamento , onde expressa tanto uma relação criativa como teocrática . A
relação fundamental de Deus para com os homens, aos quais criou conforme sua
própria imagem , encontra sua mais completa e apropriada ilustração na relação
natural que envolve a doação da vida . Malaquias faz a pergunta: `` Não temos
todos nós o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus? ( 2. 10 ). Isaías
igualmente exclama : ``Mas agora , Ò Senhor, tu és o nosso Pai, nós somos o
barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obras de tuas mãos´´ ( 64.8 ).
Mas, é mais particularmente no caso da natureza espiritual do homem que essa
relação é reivindicada . Em Hb 12.9 Deus é chamado de `` Pai dos espíritos´´, e
em Nm 16.22 , de `` Autor e Conservador de toda vida´´. Paulo ao falar no
areópago , empregou esse argumento para impressionar a irracionalidade do homem
racional que adora ídolos de madeira e pedra, citando o poeta Árato ( ``porque
dele também somos geração´´) a fim de indicar que o homem é uma criatura de
Deus . Dessa maneira , a natureza de criatura que o homem tem é o paralelo da
Paternidade geral de Deus . Sem o Pai Criador não haveria raça humana,
não haveria humanidade.
A designação `` Pai ´´ é usada
igualmente no Antigo Testamento para expressar a relação de aliança entre Deus
e Seu povo de Israel . Nesse sentido, trata-se de uma relação coletiva que é
indicada mais claramente que uma relação individual . Israel era uma
nação em aliança com Deus , e nesse sentido era filha de Deus , e foi desafiada
a reconhecer e a corresponder a essa relação filial: `` se eu sou o Pai , onde
está a minha honra ?´´ ( Ml 1. 6 ). Porém visto que a relação de aliança
era redentora em sua significação espiritual, isso pode ser considerado como
uma prefiguração da revelação neotestamentária sobre a Paternidade de Deus.
No Novo Testamento a designação: Pai é
usada em sentido específico e pessoal . Cristo a aplica , antes de mais
nada, a relação que Ele mesmo sustentava com o Deus. Há toda evidência que essa
relação é sem paralelo , e que não pode ser compartilhada por qualquer criatura
. Deus era Pai de Cristo por geração eterna , expressão de uma relação
essencial e desligada do tempo. É significativo que Jesus em seu ensino
aos Doze , nunca tenha empregado a expressão ``nosso Pai´´ incluindo a Ele
mesmo e a eles . Em Sua mensagem depois da ressurreição indicou duas
relações distintas : `` meu Pai e vosso Pai´´ ( Jo 20. 17 ) ; porém essas duas
relações tão intimamente ligadas que uma se torna a base da outra.
Sua filiação embora num nível
inteiramente sem igual , era a base da filiação deles .Ora, essa é a relação
redentora que pertence a todos os crentes, e no contexto da redenção esta
relação é vista de dois aspectos diferentes , o da posição deles em Cristo e o
da obra regeneradora do Espírito Santo neles . Conforme um desses aspectos em
união viva com Cristo , foram adotados na família de Deus e receberam todos os
privilégios que pertencem a sua relação filial --- ``se somos filhos somos
também herdeiros ´´ ( Rm 8. 17 ), essa é a sequência . Conforme o outro
aspecto os crentes são considerados nascidos na família de Deus por virtude de
regeneração . O primeiro é o aspecto objetivo e o segundo é o aspecto
subjetivo.
Por causa de sua nova posição (
justificação ) e relação ( adoção ) para com Deus Pai em Cristo, tornaram-se
participantes da natureza divina e nasceram na família de Deus. Torna-se claro
que o ensino de Cristo sobre a paternidade de Deus restringe a revelação a seu
povo crente. Em caso algum Jesus da a entender que esta relação existe entre
Deus e os incrédulos e não somente Ele não fornece qualquer indicação de uma
Paternidade redentora da parte de Deus para com todos os homens , como
também disse de forma inteiramente franca aos judeus zombadores : `` Vós sois
do diabo , que é vosso pai´´( Jo 8.44 ).
É debaixo dessa relação de Pai que o
Novo Testamento apresenta os aspectos mais ternos do caráter de Deus, ou
seja. Seu amor ,Seu vigilante cuidado, Sua superabundância, e Sua
fidelidade. Ao treinar os doze, Cristo empregou a ilustração das relações
de um pai para com seus filhos, e dali prosseguiu para níveis mais elevados:
``...Quanto mais o Pai celestial ...´´ ( Lc 11.13 ).
Os Nomes
De Deus ( ³ * )
Em nossa cultura , os pais usualmente
escolhem nomes para seus filhos, tendo por base a estética ou a eufonia.
Nos tempos bíblicos, porém , dar nomes era uma ocasião de considerável
relevância. O nome era uma expressão do caráter, natureza ou futuro do
indivíduo (ou pelo menos uma declaração do que se esperava de quem o recebeu)
Nas Escrituras Deus demonstrou que o Seu nome não era mera etiqueta para
distinguí-lo das demais deidades das culturas em derredor . Pelo
contrário : cada nome que Ele usa e aceita revela alguma faceta do seu caráter,
natureza, vontade ou autoridade.
Pelo fato de o nome representar a
Pessoa e a presença de Deus, `` invocar o nome do Senhor ´´ veio a ser um meio
de entrar em íntima comunhão com Deus. Esse era um tema comum às
religiões do Oriente Médio antigo . As religiões em derredor , porém , tentavam
controlar as suas deidades mediante uma manipulação de nomes , ao passo que os
israelitas eram proibidos de usar o nome de seu Deus em vão ou com maus
propósitos ( Êx 20.7 ). Pelo contrário, deviam manter um relacionamento
puro com o Seu nome, como estabelecido por Deus, pois isso trazia consigo a
providencia e a salvação.
Nomes
Do Antigo Testamento
A palavra original para a deidade que
se achava em todos os idiomas semíticos era : EL, que
possivelmente tenha se derivado de um termo que significava poder ou
proeminência. Entretanto é incerta a origem exata da palavra. Posto
que era usada por várias religiões e culturas diferentes , em comum, pode ser
classificada como um termo genérico para: ``Deus´´ ou ``deus´´ ( o que
depende do contexto, pois as Escrituras hebraicas não fazem distinção entre letras
maiúsculas ou minúsculas ) . Para Israel , havia um só Deus verdadeiro ; logo,
o emprego do nome genérico por outras religiões era vão e vazio, pois Israel
tinha de crer em ‘El ‘Elohe Yisra ‘el: “ Deus o Deus de Israel “ (
ou, possivelmente: Poderoso é o Deus de Israel ) Gênesis 33.20.
Na Bíblia , esse nome forma muitos
termos descritivos compostos, tais como: “ Deus [ El] da glória” (
Sl 29.3 ), “ Deus [ ‘El ] do conhecimento” ( ISm 2.3 ), “ Deus
[‘ El ] da vingança” ( Sl 94.1 ), “ Deus [‘ El ]
grande e terrível” ( Ne 1.5; 4.14;9.32; Dn 9.4 ).
A forma plural ‘elohim,
acha-se quase 3000 vezes no Antigo Testamento, e pelo menos 2300 dessas
referências falam do Deus de Israel ( Gn 1.1; Sl 68.1 ). O termo ‘elohim,
no entanto , tinha uma gama suficientemente ampla de significados , podendo
referir-se também aos ídolos ( Êx 34.17 ), aos juízes ( Êx 22.8 ) , aos
anjos ( Sl 8.5 ) ou aos deuses de outras nações ( Is 36.18; Jr 5.7 ). A
forma plural ao ser aplicada ao Deus de Israel , pode ser entendida como a
maneira de significar que a plenitude da deidade acha-se dentro do único Deus
verdadeiro , com todos os atributos , virtudes e poderes. O sinônimo de ‘ Elohim é
sua forma singular , ‘Eloah, que também é usualmente traduzida por
“ Deus” .
Um exame dos trechos
bíblicos onde o nome ocorre , sugere que este assume um significado adicional :
reflete a capacidade de Deus em proteger ou destruir ( o que depende do
contexto específico ). É usado em paralelo com rocha-refúgio ( Dt 32.15; Sl
18.31; Is 44.8 ). Os que se refugiam nEle descobrem que ‘Eloah é um
escudo de proteção ( Pv 30.5 ), mas um terror para os pecadores: ” Ouvi, pois,
vós que vos esqueceis de Deus [‘ Eloah ]; para que vos não
faça em pedaços, sem haver quem vos livre” ( Sl 50.22; ver também 114.7; 139.19
). Esse nome portanto, é um consolo para os que se humilham e nEle buscam
o refúgio , mas castiga os que praticam a iniquidade. O nome é um desafio para
as pessoas decidirem qual aspecto de Deus querem experimentar, porque “
bem-aventurado é o homem a quem Deus [‘Eloah ] castiga ( Jó 5.17 ).
Jó acabou reverenciando a Deus na sua majestade , arrependendo-se das palavras
inúteis que havia proferido ( 37.23; 42.6 ).
Deus frequentemente revelava uma
faceta a mais do seu caráter, fornecendo frases ou locuções descritivas em
conexão com seus vários nomes. Ao renovar sua aliança com Abrão [Abraão
], identificou-se como ‘El Shaddai ( Gn 17.1 ). Nalgumas
passagens bíblicas , shaddai parece transmitir a idéia de
alguém que tem o poder de devastar e destruir. No Salmo 68.14 , oShaddai “espalhou
os reis” ; idéia semelhante é apresentada pelo profeta Isaías : “ Uivai, porque
o dia do SENHOR está perto; vem do Todo-poderoso [Shaddai ] como
assolação ( Is 13.6 ) . Noutros textos, porém, a ênfase parece recair em Deus
como aquele que é auto-suficiente em tudo : “ O Deus Todo-poderoso
[ ‘ El Shaddai ] me apareceu em Luz na terra de Canaã, e me
abençoou, e me disse : Eis que te farei frutificar e multiplicar” ( Gn 48 3,4;
ver também 49.24 ).
Os eruditos usualmente
optam por traduzir ‘ El shaddai como “ Todo- poderoso” ou “
Onipotente “ , reconhecendo a capacidade de Deus em abençoar ou castigar
, conforme a situação, posto que ambas as características encontram-se
incluídas no caráter e no poder que é peculiar a esse nome. Outras
posições ajudam a revelar o caráter de Deus Sua natureza exaltada é demonstrada
em ‘El ‘Elyon , “ Deus Altíssimo”( Gn 14.22; Nm 24.16;
Dt 32.8 ). A natureza eterna de Deus è representada por ‘El ‘Olam,
“ perpétuo” ou “ eterno”; quando Abraão se estabeleceu em Berseba, “ invocou lá
o nome do SENHOR , Deus eterno” ( Gn 21.33 ; cf. Sl 90.2 ) . Todos os que vivem
sob o domínio do pecado e que precisam da libertação, invocam ‘Elohim
yish’ enu, “ Deus nosso Salvador” ( I Cr 16.35; Sl 65.5;
68.19; 79.9 ). O profeta Isaías foi grandemente usado pelo Senhor para
falar aos seus contemporâneos tanto palavras de juízo como palavras de
consolação. Tais palavras não resultavam de especulações nem de análise
feita por alguém sobre a condição social do povo.
O profeta viu o recado do Deus
que se revelou. Seu comissionamento, em Isaías 6 , pode ajudar-nos a
conhecer um pouco mais sobre a Sua Pessoa . Ali, Deus se revelou exaltado
sobre num trono real. O comprimento das suas vestes confirmava a
sua majestade . Os serafins declaravam a sua santidade e
pronunciavam o nome pessoal de Deus: Yahweh. O nome Yahweh
aparece 6828 vezes em 5790 versículos no Antigo Testamento , e é a designação
mais frequente de Deus na Bíblia . É provável que esse nome se derive do verbo
hebraico que significa “ tornar-se” , “ acontecer”, “ estar presente”.
Quando Moisés tinha diante de si o dilema de como convencer os escravos hebreus
a acolhê-lo como mensageiro da parte de Deus, quis saber o nome do Senhor.
A forma que sua pergunta assume é
realmente uma busca da descrição do caráter , e não de um título ( Êx 3 11-15
). Moisés não estava perguntando : “ Como te chamarei?” mas:” Qual é o teu
caráter; como és tu?” Deus respondeu: “ EU SOU O QUE SOU” ou “ SEREI O QUE
SEREI” ( v. 14 ). Em hebraico ‘ ehyeh ‘asher ‘ehyeh ‘ que
indica a existência em ação. Na frase seguinte , Deus se identifica como
o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, que doravante será conhecido como YHWH .
Essa expressão hebraica , que consiste de quatro consoantes é conhecida como o
tetragrama, e é usualmente traduzida nas nossas Bíblias como SENHOR ( em
letras maiúsculas ). O senhorio , porém , não é um aspecto essencial
desse termo. Pelo contrário : é uma declaração de que Deus é alguém que tem existência
em si mesmo (o EU SOU ou EU SEREI ) , que faz com que todas
as coisas venham a existência , e que optou por escolher um povo para si ,
estando fielmente ao seu lado.
Nos tempos do Antigo
Testamento , esse nome era pronunciado livremente pelos israelitas. O
terceiro mandamento ( Êx 20.7 ) era claro: “ Não tomarás o nome do
SENHOR ( YHWH ) , teu Deus em vão “. Este nome
não poderia ser citado levianamente, visando prestígio ou vantagens imerecidas.
No decorrer dos séculos porém, os escribas e os rabinos desenvolveram uma
estratégia para sustentar tal proibição. Inicialmente , os escribas
escreviam a palavra hebraica ‘ adonai ,“ meu Senhor “, “ meu Mestre”, na margem
do rolo, todas as vezes que a palavra YHWH aparecia
no texto inspirado das Escrituras. Sinais avisavam que se devia ler
‘adonai em vez do Nome Santo que se encontrava no texto bíblico. A idéia
era que se ninguém pronunciasse o Nome Santo, este não poderia ser tomado em
vão. Mas esse método não era infalível , e alguns leitores pronunciavam o
Nome ( sem querer ) ao lerem as Escrituras publicamente na sinagoga. Mas
a grande reverência pelo texto bíblico
Impedia que os escribas e rabinos
chegassem ao ponto de retirar deste o nome divino, YHWH ,
e substituí-lo por termos menos importantes, como é o caso de ‘adonai.
Finalmente, os rabinos concordaram em usar vogais no texto hebraico ( uma
vez que o texto inspirado consistia originalmente, só de consoantes ).
Tiraram as vogais de ‘adonai e as modificaram para ajustar-se às exigências
gramaticais de YHWH , encaixando-as entre as consoantes
do Nome Divino. E, assim, foi criada a fórmula híbrida YeHoWaH .
As vogais serviriam então para lembrar o leitor a pronunciar ‘Adonai .
Algumas Bíblias transliteram essa forma híbrida por “ Jehovah”
(aportuguesado “ Jeová” ), criando uma palavra composta com as consoantes de um
nome pessoal e as vogais de um título que nunca teve existência real na língua
hebraica.
Já nos tempos do Novo Testamento , o
costume de substituir o Nome inefável por “Senhor” foi aceita por seus
escritores ( e nisto foram seguidos em muitas traduções modernas da Bíblias
). Assim é aceitável . Mas devemos ensinar e pregar que o caráter
do “ Senhor/Yahweh/Eu Sou/Eu Serei” é a sua presença ativa e
fiel. Se” Yahweh” for a pronúncia original, o
significado gramatical seria “ aquele que continuamente causa a
existência”. “Porque os povos andarão , cada um em nome do seu deus ; mas
nós andaremos no nome do SENHOR [ Yahweh ],
nosso Deus, eternamente e para sempre” ( Mq 4.5 ). Os serafins na visão
de Isaías , combinam o nome pessoal de Deus de Israel com o substantivo
descritivo tseva’oth , “ exércitos “ ou “hostes”.
Essa combinação entre Yahweh e tseva’oth ocorre em 248 versículos da Bíblia (
62 vezes em Isaías, 77 vezes em Jeremias, 53 em Zacarias ) e é usualmente
traduzida por “ SENHOR dos Exércitos “ ( Jr 19.3, Zc 3. 9,10 ). Trata-se
da afirmação de que Yahweh (aportuguesado Javé )
era o verdadeiro líder dos exércitos de Israel, bem como das hostes dos
céus , inclusive os anjos e as estrelas, reinando universalmente como Supremo
Comandante do universo inteiro.
A forma como é empregada a
expressão em Isaías 6.3 , contrapõe-se ao postulado das nações em
derredor, de que cada deus regional era o deus guerreiro que mantinha
domínio exclusivo naquele país . Mesmo se Israel fosse derrotado , não
seria porque Javé fosse mais fraco do que outro deus guerreiro, mas porque Javé
estava usando os exércitos dos países vizinhos ( que Ele mesmo criara )
para castigar o seu povo impenitente. No Oriente Médio antigo, o rei
também era o líder de todas as operações militares. Por isso , esse
título , Yahweh Tseva’oth, é outra maneira de exaltar a
realeza de Deus: “ Levantai , ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó entradas
eternas , e entrará o Rei da Glória. Quem é este Rei da Glória? O SENHOR
dos Exércitos [Yahweh Tseva’oth ] , ele é o Rei da Glória” (
Sl 24. 9,10 ).
Os serafins , na visão de Isaías,
também confessam que “ toda terra está cheia da sua glória”. Esta glória
( hb. Kavodh ) contém o conceito de posição privilegiada.
O uso do vocábulo “ glória”, neste contexto, indica alguém que possui uma
posição de grande destaque ,publicamente reconhecida. Essa “glória”
pertence a quem é honrado, impressionante e digno de respeito. A revelação que
Deus faz de si mesmo está relacionada ao seu propósito de habitar entre
os seres humanos. Ele deseja que a sua realidade e o seu
esplendor sejam devidamente conhecidos. Mas isso é possível somente
quando as pessoas compreendem a qualidade indelével de sua santidade
(inclusive a importância de cada um dos seus atributos ), e se revestem de fé e
de obediência a fim de que essa faceta do caráter divino seja nelas
manifestada. Deus não se manifesta de modo físico, porém muitos cristãos
podem testemunhar da sensação subjetiva e espiritual de haverem experimentado a
presença poderosa do Senhor. É exatamente essa experiência de Isaías
. Somente Deus é digno de toda grandeza , e de glória, do reino e
do poder. Mas não é somente essa única reputação divina que enche a terra
; a própria realidade de sua presença e a plena posição de destaque de sua
glória acham-se por toda parte ( cf. II Co 4.17 ).
O desejo de Deus é que todas as pessoas
reconheçam espontaneamente a sua glória. Ele habitou progressivamente em glória
entre os seres humanos ; primeiramente na coluna de fogo e de nuvem , no
Tabernáculo, no Templo em Jerusalém, e posteriormente, na carne , como seu
Filho, Jesus de Nazaré. E, agora, em nós, pelo seu Espírito Santo. “
Vimos a sua glória , como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de
verdade” ( Jo 1.14 ). Hoje, temos a certeza de que todos somos templo do
Espírito Santo de Deus ( I Co 3. 16,17 ). O nome “ Eu Sou/
Eu Serei”, em conjunção com determinados termos descritivos, serve
frequentemente como a confissão de fé que revela ainda mais a natureza de Deus.
Quando Isaque perguntou ao seu pai : “ Eis aqui o fogo e a lenha mas onde está
o cordeiro para o holocausto?” , Abraão garantiu ao seu filho que Deus o
proveria [ yireh ] ( Gn 22. 7,8 ). Depois de sacrificar o
cordeiro substituto que ficara preso entre os arbustos, Abraão chamou
aquele local de Yahweh yireh, “ o SENHOR proverá” ( v.
14 ).
A fé de Abraão , contudo, ía além de
uma simples confissão de que Deus provê o material.Para o patriarca , Deus era
aquEle que estava pessoalmente envolvido e disposto a dar uma solução ao
problema. E este foi resolvido ao prover Deus um substituto para Isaque, como
oferta sacrificial aceitável. Depois do acontecido, podemos testificar
que o Senhor realmente provê. Mas Abraão , mesmo durante a subida ao monte,
estava confiante de que Deus Iria prover uma solução , pois tinha assegurado
aos servos que tanto ele quanto Isaque voltariam. A fé de Abraão permitiu
que ele se lançasse por completo aos cuidados de Deus. Pois acreditava que o
Senhor era capaz de dar uma solução para todo e qualquer problema, segundo a
sua sabedoria e seus propósitos . Mesmo que isso envolvesse o sacrifício
de seu filho Deus o ressuscitaria dentre os mortos ( ver Hb 11. 17-19 ).
O nome sagrado de Deus também é
empregado em combinação com vários outros termos usados para descrever muitas
facetas do caráter, da natureza , das promessas
E das atividades do Senhor. Yahweh
Shammah, “ O Senhor Está Ali “, serve como promessa da presença e do poder
de Deus na cidade profetizada por Ezequiel Ez 48.35. Yahweh
‘osenu, “ o Senhor nosso Criador” , é uma declaração da sua capacidade e
disposição para lançar mãos das coisas que existem e torná-las úteis ( Sl 95.6
). Os hebreus , no deserto, experimentariam o cuidado de Yahweh roph’
ekha “ o Senhor teu médico “ ou “o Senhor que sara” , se
escutassem e obedecessem aos seus mandamentos ( Ex 15.26 ). Desta maneira
, conseguiriam evitar as pragas e as enfermidades que Deus enviara sobre o
Egito. Nosso Senhor , pela sua natureza , é quem cura aqueles que se
submetem ao seu poder e a sua vontade. Após ter comandado com êxito total
a batalha contra os amalequitas , Moisés levantou um altar dedicado a Yahweh
nissi, “ o Senhor é minha bandeira” ( Ex 17.15 ). A bandeira servia de
baliza para o reagrupamento durante a batalha ou em qualquer outra atividade
coletiva. Essa função da bandeira aparece simbolicamente na serpente de
bronze erguida numa haste , e no Salvador que serviria de bandeira para os
povos ( Nm 21.8-9; Is 62.10,11; Jo 3.14; Fp 2.9 ).
Quando Deus falou a Gideão , este
edificou um altar a Yahweh Shalom: “ o Senhor é paz” (
Jz 6.23 ). A essência do Deus de paz é inteireza, integridade, harmonia
,realização , no sentido de lançar mão daquilo que é incompleto ou quebrado e
deixá-lo completo mediante um ato soberano. Podemos enfrentar desafios
difíceis , assim como aconteceu a Gideão ao confrontar os midianitas, sabendo
que Deus nos outorga paz: essa é uma das maneiras de Ele manifestar a sua
natureza. O povo de Deus precisa de um provedor e protetor. E, assim, Deus se
revelou como Yahweh ro’i, “ o Senhor é meu
pastor” (Sl 23.1 ). Todos os aspectos positivos do pastoreio no Oriente Médio
antigo acham-se aplicados no Senhor ( guiar,alimentar, defender, cuidar, curar,
treinar,corrigir e dispor-se a morrer pelas ovelhas , se necessário for ).
Quando Jeremias profetizou a respeito do rei vindouro, o rebento justo de
Davi , que Deus suscitaria , o nome pelo qual esse rei seria conhecido
era Yahweh tsidkenu: “ o Senhor justiça nossa” ( Jr 23.6; ver
também 33.16 ).
É da natureza divina agir
com justiça e juízo para que nos coloquemos diante dEle como justos. Deus
torna-se a norma e o padrão para pautarmos a nossa vida. Pois se Ele fez de
Cristo , “que não conheceu o pecado” , “ pecado por nós “ ( IICo 5.21 ),
podemos , então , ser participantes de sua promessa que nos declara justos. “
Mas vós sois dEle , em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus
sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” ( I Co 1.30 ). Umas das
maneiras de Deus demonstrar o seu propósito em ter um relacionamento com seu
povo é mediante a sua descrição como “Pai”. O conceito de Deus como Pai
está mais desenvolvido no Novo que no Antigo Testamento, ocorrendo 65 vezes nos
três primeiros Evangelhos, e mais de 100 vezes só no Evangelho de João. O
Antigo Testamento identifica Deus como Pai somente 15 vezes ( usualmente com
relação à nação ou ao povo de Israel ). Os aspectos específicos da paternidade
divina, sempre enfatizados , incluem a criação ( Dt 32.6 ), a responsabilidade
pela redenção ( Is 63.16 ), a formação de uma nova personalidade ( Is 64.8 ), a
amizade familiar ( Jr 3.4 ), o repassar a herança ( Jr 3.19 ), a liderança ( Jr
3.19 ) o prestar a honra ( Ml 1.6 ), e estar disposto a castigar a transgressão
( Ml 2.10,12 ). Deus também é visto como Pai de indivíduos específicos,
especialmente dos reis Davi e Salomão. No tocante a eles o Pai está
disposto a castigar o erro ( IISm 7.14 ), sem deixar de ser fiel ao seu amor (
ICr 17.13 ). Acima de tudo Ele promete ser fiel para sempre, garantindo a
sua proteção como Pai, por toda eternidade ( I Cr 22.10 ).
Nomes No Novo
Testamento
O Novo Testamento oferece uma revelação
muito mais clara do Deus Trino e Uno do que o Antigo Testamento. Deus é Pai (
Jo 8.54; 20.17 ), Filho ( Fp 2.5-7; Hb 1.8 ) e Espírito Santo ( At 5.3,4; ICo
3.16 ). Grande parte dos nomes , títulos e atributos encaixam-se mais
apropriadamente nas categorias de “ Trindade”, “Cristo” e “ Espírito Santo”. O
que se segue focalizará apenas os nomes e títulos que falam mais diretamente a
respeito do único e verdadeiro Deus. O termo “teologia” deriva-se da
palavra grega “theos”. Os tradutores da Septuaginta adotaram-na como a
palavra apropriada para representar o vocábulo hebraico ‘elohim e
seus sinônimos correlatos. Os escritores do Novo Testamento seguiram a mesma
orientação. Theos também era o termo genérico para os seres
tidos como divinos .
Na ilha de Malta por exemplo,
Paulo foi chamado deus por ter sobrevivido a uma mordida de uma víbora ( At
28.6 ). O termo pode ser traduzido , de acordo com o contexto literário , por
“deus” , “deuses” ou “Deus”, a exemplo do que acontece com o termo hebraico
‘El ( Mt 1.23; I Co 8.5; Gl 4.8 ). Mesmo assim o
emprego dessa palavra grega não faz a mínima concessão à existência de outros
deuses, posto que o contexto literário não é idêntico ao contexto espiritual.
Dentro da realidade espiritual há um só Ser Divino : “ Sabemos que o ídolo nada
é no mundo e que não há outro [Theos ], senão um só” (
ICo 8.4 ). Deus tem o direito exclusivo a esse termo , como revelação
adicional de si mesmo. Podemos dizer o mesmo a respeito do termo grego
Logos , “ Verbo” ou “Palavra” ( Jo. 1. 1,14 ). O Antigo Testamento
introduz o conceito figurativo de Deus como Pai; o Novo Testamento demonstra
como esse relacionamento pode ser experimentado. Jesus fala
frequentemente a respeito de Deus, utilizando termos que caracterizam intimidade.
Nenhuma oração no Antigo Testamento dirige-se a Deus como “Pai”. Jesus porém ao
ensinar os seus discípulos a orar, esperava deles que adotassem a postura de
filhos, e dissessem: “Pai nosso , que estás nos céus, santificado seja o teu
nome” ( Mt 6.9 ).
Nosso Deus é o “Pai “
Todo-poderoso que se acha nos céus ( Mt 26.53; Jo 10.29 ); e Ele utiliza seu
poder para conservar, sustentar, chamar, amar, preservar,prover e glorificar (
Jo 6.32; 8.54;12.26; 14.21,23;15.1;16.23 ). O apóstolo Paulo resumiu a
sua própria teologia, focalizando a nossa necessidade de favor e integridade
imerecidos.
Ele inicia a maioria das suas epístolas
com essa declaração de invocação : “ Graça e paz de Deus , nosso Pai, e do
Senhor Jesus Cristo” ( Rm 1.7; ver também ICo 1.3; IICo 1.2; Gl 1.3; etc.
). Na filosofia grega os seres divinos eram descritos como “motor
imóvel”, “ a causa de toda existência”, “a existência pura”, “ a alma
universal” e por outras expressões impessoais. Jesus seguia a forma da
revelação do Antigo Testamento, e ensinava que Deus é pessoal. Embora
Jesus falasse do Deus de Abraão,de Isaque e de Jacó ( Mc 12.26 ); do Senhor (
Mc 5.19; 12.29; Lc 20.37 ); do Senhor do céu e da terra (Mt 11.25 ); do
Senhor da seara ( Mt 9.38 ); do único Deus ( Jo 5.44 ); do Altíssimo ( Lc
6.35 ); do Rei ( Mt 5.35 ) ; seu título predileto para Deus era “Pai” , que no
Novo Testamento é o grego : pater ( daí derivam as palavras “
patriarca” e “ paterno”). Surge uma exceção em Marcos 14.36 , onde o
termo aramaico ‘abba, que Jesus usou para dirigir-se a Deus, foi
conservado.
Paulo designou Deus como ‘abba em
duas ocasiões: “Porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito
de seu Filho , que clama : Aba, Pai [Gr. Ho pater].
( Gl 4.6 ). “ Não recebeste o espírito
de escravidão,para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de
adoção de filhos, pelo qual clamamos : Aba Pai [ ho pater ]. O
mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” ( Rm
8.15,16 ). Isto é : na Igreja Primitiva, os cristãos judaicos estariam
invocando Deus, dizendo: ‘ Abba, “ Ó Pai!” e os cristãos gentios
estariam exclamando: Ho Pater, “Ó Pai!”. Ao mesmo tempo o Espírito
Santo estaria tornando real para eles que Deus é, de fato , o Pai de
todos. A qualidade incomparável do termo acha-se no fato de que Jesus lhe
atribuiu uma ternura incomum. Além do mais , caracterizava muito bem o seu
próprio relacionamento com Deus, e também o tipo de relacionamento que Ele
queria em última análise , que os seus discípulos tivessem com o Pai.
As
Opiniões Do Mundo Não Cristão ( ¹ ** )
A qualquer pessoa que considerar
cuidadosamente as provas da existência de Deus já apresentadas, a evidência
parece conclusiva. Ela pode apenas exclamar: Certamente existe um Deus! O
próprio Deus considera a evidência como conclusiva. Deduzimos isto não
apenas pelo fato de que se não o considerasse assim, Ele nos teria dado mais,
como também por expressas declarações a esse respeito ( Rm 1.18-20; Atos 14.17;
17.24-29 ). Acreditar na existência de Deus é, portanto, a coisa
normal e natural a ser feita, e o agnosticismo e ateísmo são as posições
anormais e contrárias à natureza. Na realidade, as últimas equivalem a
dizer que Deus não nos forneceu evidência suficiente de sua existência. Tais
atitudes são uma crítica a um Deus benevolente e santo, e são pecaminosas.
O Ponto
De Vista Ateístico
Em certo sentido,
todas as religiões não cristãs são ateístas: no sentido de que não reconhecem o
único Deus verdadeiro. Mas em um sentido mais restrito, o termo “ateísmo”
é limitado a três tipos distintos: Aquele que é conhecido como ateísta prático,
o ateísta dogmático e o ateísta virtual. Vamos notar as diferenças entre eles.
O Ateísmo Prático é encontrado entre muitas pessoas
iletradas. Elas ficam desapontadas com certos “cristãos” e decidem
precipitadamente que toda religião é falsa. Porém, não é tanto que elas tenham
perdido a fé na existência de Deus, mas sim nas pessoas que se dizem seus
filhos e deixam de corresponder a essa posição nas suas vidas. Pessoas assim
não são ateístas confirmadas; elas simplesmente desculpam a sua indiferença
baseando-se na inconsistência de certos cristãos professos. Elas podem,
entretanto, ser chamadas ateístas práticos no que toca a seus interêsses
religiosos.
O Ateísmo Dogmático é o tipo que
professa o ateísmo abertamente. A maior parte das pessoas não alardeiam
atrevidamente seu ateísmo diante dos homens, pois é um termo de reprovação, mas
há alguns que não se intimidam em declarar-se ateístas. Em anos recentes
tem havido um reavivamento deste tipo de ateísmo na América. Em 1925, Charles
Smith, um ex-estudante de teologia, fundou a Associação Americana Para
o Progresso do Ateísmo, ela tem conseguido algum êxito em nossas
faculdades e universidades. Mas no número de agosto de 1944 da
revista Scientific Monthly , A. J. Carlson, presidente
da Associação Americana para o Progresso da Ciência, ele
próprio um descrente confesso, diz: “ O pequeno grupo de pessoas liberais e
informadas que conseguiram sair de um casulo de supernaturalismo , nem mesmo
constitui um fermento respeitável no grupo de bacharéis”. Paul B. Anderson , People, Church, and State in
Modern Russia ( Povo, Igreja e Estado na Rússia Moderna )
( New York:The Macmillan Company, 1944 ), pag.
115. Durante os anos 1933-37, o rol dos membros da Liga de
Ateístas Militantes diminuiu na realidade de cinco milhões para
dois milhões.
O Ateísmo Virtual é o tipo que
se firma em princípios que não são consistentes com a crença em Deus ou que O
define em termos que violentam o uso comum da linguagem. A maioria
dos naturalistas consumados do passado e do presente pertencem a primeira
destas variedades . O naturalismo afirma que a
natureza é o todo da realidade. Em tempos recentes, tem aparecido como
materialismo, positivismo e energismo. O materialismo se
desprestigiou recentemente junto ao cientista e ao filósofo pela decomposição
do átomo e pela descoberta de que a realidade última não é sólida , mas uma
carga, uma carga elétrica. O positivismo é na
realidade um tipo agnóstico e será anotado sob esse título. O Energismo ainda
não formulou uma filosofia completa ; ainda não conseguiu explicar a mente em
termos de energia pura. Os que definem Deus com abstrações tais como : “
um princípio ativo na natureza”, a “ordem moral do universo”, o “fluxo
Cósmico”, a “ consciência moral”, o “incognoscível”, são ateístas da segunda
dessas variedades. Eles estão , na realidade, violentando ao significado
estabelecido do termo “Deus”. Também o teísmo tem sua nomenclatura bem
estabelecida e ela não pode ser manipulada à vontade para servir aos caprichos
da crença moderna.
A posição ateísta é
muito insatisfatória, instável e arrogante. É insatisfatória porque falta
a todos os ateístas a garantia do perdão dos seus pecados, todos levam uma vida
fria e vazia e nada sabem a respeito de paz e comunhão com Deus. É
instável porque é contrária as convicções mais profundas do homem. Tanto
a Escritura como a história mostram que o homem acredita necessariamente e
universalmente na existência de Deus. O ateísta virtual testifica
este fato por adotar uma abstração para explicar o mundo e sua vida. É
arrogante porque realmente pretende ser onisciente. Conhecimento limitado pode
deduzir a existência de Deus, mas conhecimento pleno de todas as coisas,
inteligências e tempos é exigido para declarar dogmaticamente que nenhum Deus
existe. O ateísta dogmático deve ser explicado
como estando em uma posição anormal. Assim como um pêndulo de um relógio pode
ser empurrado para fora do centro por uma força externa ou interna, assim pode
a mente do homem ser empurrada para fora de sua posição normal por uma
filosofia falsa. Quando a força é removida , tanto o pêndulo como a mente
humana retornam a sua posição normal.
O Ponto
De Vista Agnóstico
O termo “agnóstico” é
aplicado as vezes a qualquer doutrina que afirma a impossibilidade de qualquer
conhecimento verdadeiro, afirmando que todo conhecimento é relativo, e portanto
incerto. Neste sentido os sofistas e céticos gregos bem como todos os empiricistas
desde Aristóteles até Hume foram agnósticos. Entretanto na teologia, o termo é
limitado aos pontos de vista que afirmam que nem a existência nem a
natureza de Deus, nem ainda a natureza suprema do universo são conhecidos ou
cognoscíveis. Herbert Spencer ( 1820-1903 ) e Thomas H. Huxley (
1825-1895 ) são frequentemente chamados de agnósticos no sentido teológico do
termo. É claro que é verdade quanto a Huxley, mas Spencer foi , na
realidade , uma combinação de positivista-panteísta. Geo. P. Fisher, Grounds
of Theistic and Christian Belief ( Fundamentos da
Crença Teística e Cristã ) ( New York: Charles Scribner’s sons,1902 ),
pág. 81. Albert Ritschl ( 1822-1889 ) e seus seguidores também foram agnósticos.
O positivismo na ciência e o
pragmatismo na filosofia e na teologia são os mais importantes tipos de
agnosticismo em tempos recentes. Auguste comte ( 1798-1859 ), o fundador
dopositivismo , decidiu nada aceitar como verdadeiro além
dos detalhes dos fatos observados , e como a idéia de Deus não poderia
assim ser submetida a um exame, ele a omitiu e se devotou inteiramente ao
estudo dos fenômenos. Mas a teoria da relatividade de
Einstein mostrou que temos que levar intangíveis em consideração , por exemplo
, tempo e espaço, até mesmo o estudo do mundo físico. Sua teoria desferiu
um golpe mortal no positivismo. O
pragmatismo na filosofia e na teologia , como o positivismo na ciência, rejeita
uma revelação especial e a competência da razão no estudo da realidade
suprema. Ele argumenta, entretanto, que como a incerteza do julgamento é
não apenas dolorosa, mais muitas vezes custosa e impossível , deveríamos adotar
o ponto de vista que de melhor resultado. De acordo com isso, Albert Ritschl e
William James ( 1842-1910 ) adotam um Fiat Deus , uma postulação
pragmática de Sua existência para poder obter certos resultados desejáveis.
John Dewey ( 1859 ) se contenta em postular abstrações vagas.
A posição agnóstica também é altamente
insatisfatória e instável e frequentemente demonstra uma falsa humildade. É
insatisfatória por sofrer o mesmo empobrecimento espiritual que a ateísta , mas
também é insatisfatória do ponto de vista intelectual. O agnosticismo prova
isso em sua adoção de opiniões tentativas como premissas básicas.É instável por
admitir que não conseguiu chegar à certeza absoluta. Ritschl e James diziam ter
chegado a uma estabilidade razoável em suas crenças , mas Dewey afirma que suas
crenças são bem temporárias. E frequentemente demonstra falsa humildade , por
dizer conhecer tão pouco. Outros, alguns agnósticos acusam, orgulhosamente,
fingem ter uma compreensão superior, mas eles francamente reconhecem as
verdadeiras limitações do conhecimento! Ora, do ponto de vista cristão,
esta é uma falsa humildade pois ele considera a evidência em favor da existência
de um Deus pessoal , extra-terreno, todo-poderoso e santo como ampla e
conclusiva.
O Ponto
De Vista Panteísta
Flint define Panteísmo como
“a teoria que considera todas as coisas finitas simplesmente como aspectos,
modificações ou partes de um ser eterno e auto-existente; que enxerga todos os
objetos materiais, e todas as mentes particulares, como sendo necessariamente
derivadas de uma única substância infinita.” Robert Flint, Anti-Theistic Theories ( Teorias
Anti-Teísticas ) (Edingurgh: Wm. Blackwood and sons, 1889 )
, pág. 336. Ela aparece em uma variedade de formas hoje, algumas
das quais também possuem elementos ateísticos, politeísticos e teísticos.
Os seguidores do panteísmo geralmente consideram suas crenças como uma religião
, dando-lhes uma espécie de submissão reverente. Por esse motivo , a
insuficiência do panteísmo precisa ser aprendida ainda com mais clareza. Vamos
mostrar de maneira mais breve possível , a natureza dos principais tipos de
panteísmo e então apresentar a réplica cristã a eles.
Os Principais
Tipos De Panteísmo
( 1 ) O Panteísmo
Materialista afirma que a matéria é a causa de toda vida e mente.
David Strauss ( 1808-1874 ) acreditava na eternidade da matéria e na
geração espontânea da vida. Ele afirmava que o universo, a totalidade da
existência que chamamos de natureza , é o único Deus que o homem moderno,
iluminado pela ciência pode consentir em adorar. Joseph Ernest Renan (
1823-1892 ) e Ernst Haeckel ( 1834-1919 ) também foram panteístas
materialistas. Mas a crença na eternidade da matéria é uma suposição ilógica e
a doutrina da geração espontânea já foi abandonada pelos cientistas.
( 2 ) Hilogoismo e Panpsiquismo são
mais antigos e mais recentes nomes para a mesma coisa. Há, entretanto, dois
tipos desta teoria . O primeiro afirma que toda a partícula de matéria
tem, além de suas propriedades físicas , também, um princípio de vida. A
forma mais antiga enfatizava as propriedades físicas e era praticamente um tipo
de materialismo. A forma moderna se reporta a G. W. Leibnitz ( 1646-1716
) que enfatizou as propriedades físicas . Ele afirmou que as unidades
finais não são os átomos mas sim os nômades, pequenas almas , com poder de
percepção e apetite. A segunda afirmação que a mente e a matéria são distintas
mas íntima e inseparavelmente unidas. Deus por esse ponto de vista , é a
alma do mundo. Os estóicos afirmavam essa forma de hilozoísmo .
Gustav T. Feshner ( 1801-1887 ) reviveu esta forma de panpsiquismo. Os
dois tipos são formas de panteísmo.
( 3 ) O Neutralismo é
uma forma de monismo que afirma que a realidade última não é nem a mente nem a
matéria , mas algo neutro do qual a mente e a matéria são apenas aparências ou
aspectos. Baruch Spinoza ( 1632-1677 ) é o melhor representante desse
tipo. Ele afirmou que só havia uma substância com dois atributos ,
pensamento e extensão , ou mente e matéria , e a totalidade dos dois é que é
Deus. F. W. J. SShelling ( 1775-1854 ) assumiu a doutrina monística de Spinoza.
Ele chamou essa realidade última de “ energia do
mundo,Santa,sempre-criativa,original, que gera e ativamente envolve todas as
coisas a partir de si própria”. Bertrand Russell ( 1872 ) também afirma
um tipo de monismo neutro, mas é um monismo que admite uma multiplicidade de
acontecimentos . Neutralismo é o tipo clássico de panteísmo.
( 4 ) O Idealismo afirma
que a realidade última é da natureza da mente e que o mundo é o produto da
mente, ou da mente individual ou da mente infinita. George Berkely (
1685-1753 ), umidealista subjetivo , afirmou que os objetos
dos quais eu me apercebo são minhas percepções e não as próprias coisas, isto é
, tudo existe apenas em minha mente. Entretanto , respondemos que se tudo
existe apenas em minha mente, então outras pessoas e Deus também existem apenas
dessa maneira. Na realidade , eu tenho que logicamente concluir que apenas eu
existo, o que reduz a teoria a um absurdo.George W. F. Hegel ( 1770-1831 ) que,
como Fichte e Schelling, começou como estudante de teologia, tomou a
especulação tese-antítese-síntese de Fichte e a desenvolveu até sua conclusão
lógica. Ele é considerado o idealista objetivo típico.
O idealismo objetivo é também conhecido como idealismo absoluto. O idealismo
subjetivo diz que o mundo é minha idéia;
o idealismo objetivo diz que o mundo é
idéia. Hegel diz que a realidade é “ pensamento, razão. O
mundo é um grande processo de pensamento. É, poderíamos dizer , Deus pensando.
Temos apenas que descobrir as leis do pensamento para conhecer as leis da
realidade. O que chamamos de natureza é o pensamento externalizado ; é a razão
absoluta que se revela em forma externa. Mas a natureza não é seu objetivo
final. Voltando, ela se expressa mais plenamente na auto consciência
humana e finalmente encontra sua completa realização na arte , religião e filosofia” Geo.
T. W. Patrick, An Introduction to Philosophy ( Uma
Introdução à Filosofia ) ( New York: Hougthton Mifflin Co. ,
1935 ) pág.221.
Há dois tipos principais de idealismo
absoluto correntes hoje: absolutismo impersonalista e absolutismo personalista
. O absolutismo impersonalista afirma que a
realidade última é uma única mente ou um sistema unificado; ele nega que esta
mente ou sistema seja pessoal. F.H. Bradley ( 1846-1924 ) e Bernard
Bosanquet ( 1848-1923 ), do movimento idealista britânico , são talvez os
representantes mais conhecidos deste ponto de vista. O absolutismo
personalista afirma que o absoluto é uma pessoa . Ele inclui
dentro de Si mesmo todos os seres finitos e partilha das experiências destes
seres , pois são numericamente uma parte dEle, enquanto que Ele também tem
pensamentos além dos seus pensamentos. Thomas H. Green ( 1836-1916 ) ,
Edward Caird ( 1835-1908 ) , Josiah Royce ( 1835-1916 ) , Mary w.
Calkins e Wm. E. Hocking são representantes desse ponto de vista.
( 5 ) Misticismo Filosófico é
o tipo mais absoluto de monismo em existência. O idealista ainda distingue
entre o mundo externo e ele próprio , o grande Ser eos seres finitos; mas para
o místico , o sentimento de diversidade cai completamente por terra e o que
conhece percebe que está identificado com o ser último do seu sujeito. A
realidade última é uma unidade, é indescritível; o ser humano não é
apenas da mesma espécie que ela , mas identificada com ela; e a união com este
absoluto é realizada mais por esforço moral do que por abstrações
teóricas.Muitos dos grandes moralistas e homens das letras da Inglaterra e da
América tem distintas tendências místicas. Por exemplo , os Platonistas de
Cambridge ( Cudworth, More, Smith e os Transcendentalistas Americanos (
Thoreau, Emerson ). Muitos grandes poetas também tem elementos místicos
em suas obras.
Concluindo este levantamento dos pontos
de vista panteísticos , recorreríamos à declaração
feita no começo desta seção, que alguns panteístas tem também elementos
ateísticos, politeísticos e teísticos em suas teorias. Os cinco tipos acima
foram tratados como panteísticossimplesmente por ser essa
sua natureza real ou principal. Os erros e natureza destrutiva devem ser
mostrados agora brevemente.
A
Refutação Das Teorias Panteísticas
A mente humana é peculiarmente atraída
pelos pontos de vista monísticos do mundo. Ela gosta de pensar que toda
existência teve uma causa ou princípio comum de
origem. Os filósofos afirmam que esta causa ou princípio está
inteiramente dentro do mundo. Os cristãos
também acreditam que há uma causa comum originária , mas eles
afirmam que está fora do mundo bem como dentro dele. O primeiro
ponto de vista é conhecido como monismo, o segundo
como monoteísmo. Devido ao profundo significado
religioso associado as crenças panteísticas , consideramos necessário oferecer
uma refutação mais ampla a elas. Rejeitamos todas as teorias panteísticas
porque:
( 1 ) São Deterministas .
Spinoza concedia a Deus uma espécie de “ livre necessidade” mas até isso ele
negava a todas as existências concretas. Toda liberdade de segundas causas é
negada; tudo existe e age por necessidade. O panteísmo
materialista pensa em termos de necessidade dinâmica, enquanto que
o idealismo absoluto pensa em termos da necessidade lógica.
Contra isto , afirmamos que somos agentes livres e de que respondemos por nossa
conduta . É devido a essa convicção que instituímos governos e punimos os
criminosos por suas más ações.
( 2 ) Destroem as fundações
da moral. Se todas as coisas resultam da necessidade então o erro
e o pecado também resultam da necessidade. Mas se isso for verdade ,
então três coisas se seguem: ( a ) O pecado não é aquilo que deveria
absolutamente ser , que merece condenação. Consequentemente , o panteísmo
fala do pecado como uma fraqueza inevitável, um estágio em nosso
desenvolvimento. Mas temos a convicção de que estamos debaixo da
condenação e da ira de um Deus santo. ( b ) Então não temos padrões
pelos quais fazer a distinção entre o certo e o errado. Se fazemos tudo
levados pela necessidade, como então podemos saber quando fazemos o certo e
quando fazemos o errado? Os panteístas fazem da conveniência o teste
moral. ( c ) Então o próprio Deus é pecador , pois Ele necessita de todas
as coisas, então Ele no fundo deve ser ignorante ou mau . Se ignorante ,
como então pode ser a luz límpida e a verdade perfeita? Se mau , como
pode punir o pecado? Nos países pagãos , onde o panteísmo recebeu um
maior significado religioso, esta idéia tem levado os homens a endeusar o mal e
a reverenciar e adorar as divindades que mais representam o mal. O panteísmo
destrói as fundações da moral.
( 3 ) Tornam Impossível Toda
Religião Racional. Alguns não considerariam isso como uma objeção ao
panteísmo, mas do ponto de vista da filosofia da religião isto é muito
importante. Ao enfatizar a união metafísica do homem com o divino , as
idéias panteísticas tendem a destruir a individualidade humana. Isso
acontece especialmente no idealismo absoluto e no misticísmo. Mas a
verdadeira religião é possível apenas entre pessoas que retêm suas
individualidades , distintamente, pois a verdadeira religião é adoração e o
culto oferecido por um ser humano a um ser divino. Quando essas distinções
desaparecem ou a medida que desaparecem , a verdadeira religião se torna
impossível. O que alguns homens ainda chamariam de religião pode, nesse caso,
ser apenas a adoração do próprio ser.
( 4 ) Negam a
Imortalidade Pessoal. Se o homem nada mais é do que parte do infinito ,
ele também nada é do que um momento na vida de Deus , uma onda na superfície do
oceano. Quando o corpo perece , a personalidade cessa e a
superfície do mar se torna lisa novamente. Portanto , não há existência
consciente para o homem após a morte . O único tipo de imortalidade que os
panteístas podem esperar ter é a sobrevivência na memória dos outros e a grande
absorção na grande realidade final. Mas temos consciência do fato de que
estamos na relação de responsabilidade pessoal para com Deus e que teremos de
prestar contas das ações praticadas no corpo , tanto boas quanto más. Sabemos
que tanto após a morte como em vida , haverá uma diferença entre o bem e o mal;
isto é ,que nossa identidade e individualidade serão preservadas.
( 5 ) Elas Endeusam o
Homem Por Fazê-lo uma Parte de Deus. O panteísmo adula o homem e
encoraja o orgulho humano. Se tudo o que existe é uma manifestação de
Deus , e Deus não passa a vida consciente a não ser no homem , então o homem é
a mais alta manifestação de Deus no mundo. Na realidade podemos medir a
grandeza religiosa de um homem pelo tanto em que ele realiza sua identidade com
Deus. Os panteístas dizem que Jesus Cristo foi o primeiro que conseguiu
uma realização perfeita desta grande verdade, quando Ele disse: “ Eu e o Pai
somos um”. E o hindu pensa que quando puder dizer: “eu sou Brahma!” , então o
momento de sua absorção no infinito terá chegado. Mas não temos o direito
de dizermos a nós mesmos o que Jesus podia dizer de si próprio ,pois somos
criaturas pecaminosas enquanto que Ele é o eterno Filho de Deus . O
cristianismo da ao homem a mais alta posição abaixo de Deus , mas não faz dele
parte de Deus.
( 6 ) Elas Não Podem
Explicar a Realidade Concreta. O panteísmo materialístico descarta o
assunto dizendo que a matéria em movimento sempre existiu; mas isso é uma
afirmação e não uma prova. Se o universo está se deteriorando, como
afirma James jeans, então ele não é auto- sustentado e se não é
auto-sustentado, então deve ter tido um começo. Op. Cit. Pags.
180,181. Tampouco pode o panteísmo materialista explicar a mente , pois a
matéria inanimada não pode concebivelmente gerar vida ou mente . E o
panteísmo idealista se esquece que pensamento sem um pensador é uma mera
abstração. A realidade é sempre substantiva , é um agente . Sem um
agente não há atividade , quer mental quer física. Como diz Knudson:
“Abstrações lógicas não podem ser engrossadas até se tornarem realidade.” Albert C. Knudson, The
Philosophy of Personalism (A Filosofia do
Personalismo ) ( New York : The Abingdon Press, 1927 ),pág.
380. Tampouco podem existências individuais serem produzidas por
universalidades abstratas. Assim o panteísmo não pode explicar a
realidade concreta.
O Ponto
De Vista Politeísta
O monoteísmo foi a religião original da
humanidade, conforme mostrado não apenas na Bíblia , mas também conforme alguns
dos melhores antropologistas modernos tem mostrado. Andrew Lang da
Escócia e Wm. Schmidt da Áustria , por exemplo . O primeiro afastamento do
monoteísmo parece ter sido em direção a adoração da natureza. O sol ,a lua as
estrelas , os grandes representantes da natureza , e o fogo, o ar, os grandes
representantes da terra , se tornaram objeto de adoração popular . Nos
Vedas encontramos hinos dirigidos a esses elementos naturais. Primeiro
eles eram simplesmente personificados ; depois os homens passaram a acreditar
que seres personalizados presidiam sobre eles. Na Índia, o politeísmo sem fim
dos hindús se desenvolveu no panteísmo. Tudo o que era extraordinário
veio a ser chamado de “ avatar”, uma encarnação de Deus ou em Brahma ou
em ishnv ou em Shiva. O Egito também tinha
muitos deuses e se preocupava com o futuro. Ra ou Re , o deus- sol , era
a divindade principal . Os faraós se diziam descendentes deles .
Outros deuses egípcios eramOsíris e Seth .
Este último se transformou no Satã da mitologia posterior egípcia .
Os gregos tinham a testa de seu
panteão elaborado um concílio de doze membros , seis deuses e seis deusas.
Entre eles Zeus ,Atenas e Apolo formavam uma
espécie de tríade . Outros deuses gregos bem conhecidos eram Poseidom,
Apolo e Aires . Júpiter era o cabeça do panteão
romano, idêntico em qualidades essenciais ao Zeus grego. Ele era o
protetor especial do povo romano. A ele, juntamente com Juno , sua
esposa, e Minerva , a deusa da sabedoria , um templo magnífico
foi consagrado no monte Capitólio. Marte era o deus da guerra . Júpiter
, Juno e Minerva constituíam uma espécie de tríade romana. Quando
consideramos o fato de que literalmente centenas de milhões de pessoas se
curvam diante de paus e de pedras , não podemos deixar de perceber a poderosa
afinidade que o politeísmo tem com a natureza humana decaída.
Apesar de não ser um desenvolvimento de
qualquer sistema filosófico, exceto nos países onde nasceu de uma base
panteística , ele constitui um grande obstáculo ao progresso da religião
verdadeira. Hoje , assim como na época da Bíblia , os homens estão “ entregue
aos ídolos” ( Oséias 4.17 ) e encontram muita dificuldade para se separarem
deles. Mas a idolatria não apenas deixa o coração vazio , mas também degrada a
mente e retarda a civilização. Na Bíblia , os deuses dos pagãos são as
vezes declarados como “vaidade “ e “nada” meros seres imaginários sem poder
para ferir ou salvar ( Sl 106.28,29; Is 41.24,29; 42.17; 44. 9-20; Jr 2.26-28
), e, em outras ocasiões , os representantes , se não a encarnação, dos
demônios ( ICo 10.20 ). Isso parece indicar que a adoração de ídolos é
adoração de demônios. Na literatura grega um“demônio” era considerado
como um deus menos importante , mas na Escritura o termo parece sempre denotar
um espírito mau . Este conceito da natureza da idolatria constitui
uma razão poderosa para levar o Evangelho aos países onde a idolatria impera.
O Ponto
De Vista Dualista
Esta teoria assume que há duas
substâncias ou princípios distintos e irredutíveis. Em epistemologia , elas são
idéia e objeto ; em metafísica, mente e matéria ; na ética o bem e o mal ; na
religião o bem ( Deus ) e o mal ( Satanás) . O cristão entretanto, não
crê que Satanás seja co-eterno com Deus , mas sim uma criatura de Deus e
sujeita a Ele. Kant, Sidgwick, os filósofos personalistas modernos, os
cristãos , e o homem comum se apegam ao dualismo epistemológico. Para
eles , o pensamento e coisa são duas entidades distintas . Os antigos
filósofos gregos tais como Tales, Empedocles, Anaxágoras e Pitágoras são
geralmente classificados como monistas, mas são , na realidade , dualistas
metafísicos. Eles faziam distinção entre os dois princípios da mente e da
matéria. Até Platão , ao fazer uma clara diferenciação entre as Idéias e
o mundo real foi, afinal de contas, dualista . Kant e todos
moralistas ingleses , que afirmavam que há um certo e errado absolutos no
universo, foram dualistas éticos. Eles erguiam, portanto , padrões do certo
absoluto. Mais importantes , do ponto de vista cristão , são os dualistas
religiosos.
Originando-se principalmente do Zoroastrismo persa,
o gnosticismo e o maniqueísmosurgiram para atormentar a
igreja primitiva. Os gnósticos parecem ter surgido
durante a última metade do primeiro século. Eles tentaram solucionar o
problema do mal, postulando dois deuses : Um Deus Supremo e um Semideus.
O Deus do Velho Testamento não é o Deus Supremo, pois o Deus Supremo é
inteiramente bom; é o Semideus que criou o universo. Há um conflito
constante entre esses dois deuses, um conflito entre o bem e o mal. Essa
luta é travada principalmente nos seres humanos e entre os seres
humanos. Cerinthus, Basilides, Valentinus, e Marcion são gnósticos
importantes do segundo século. Mani, aparentemente tido
sido criado dentro de uma velha seita babilônica , tornou-se o fundador
do maniqueísmo. Quando entrou em contato com o
cristianismo , ele concebeu a idéia ( Ca. 238 ) de combinar o
dualismo oriental com o cristianismo , em um todo harmonioso. Ele se
considerava um apóstolo de Cristo e o Paracleto prometido.
Ele se dispôs a eliminar todos
elementos judaicos do cristianismo e substituí-los pelo zoroastrismo.
Seus ensinamentos fizeram uma clara distinção entre o reino da escuridão e o reino
da luz e os mostravam em perpétuo conflito de um com o outro. Agostinho
foi membro dessa seita por alguns anos antes da sua conversão. Neste
último século , o problema da origem e da presença do mal no mundo tem
novamente chamado a atenção. Isso tem levado alguns a retornarem a uma
forma antiga de dualismo: Deus e a matéria ( alguns diriam Deus e Satanás ) são
ambos eternos . Deus é limitado em poder e talvez em conhecimento, mas
não na qualidade do caráter. Deus está fazendo o melhor que pode com um
mundo recalcitrante e no fim vencê-lo-á completamente. O homem deveria
prestar assistência a Deus nesta luta e apressar a queda do mal. Damos a
seguir os nomes dos que crêem em um Deus finito: J. Stuart Mill (
1806-1873 ), Wm. James ( 1842-1919 ), F. H.
Bradley ( 1846-1924 ) , Hastings Rashdall ( 1858-1924 ), Leonard T. Hobhouse (
1846-1929 ), A. N. Whitehead ( 1861- ), H. G. Wells ( 1866- ) , e E. S.
Brigthman ( 1844- ). O pregador inglês , Frederick W. Robertson ( 1816-1853 ) parece ter
pensado de modo semelhante.
O problema do mal é certamente difícil
em qualquer teoria, mas não cremos que a doutrina do dualismo seja uma solução
real desse problema. Em primeiro lugar , um Deus finito não pode
satisfazer o coração humano, pois que garantia pode um tal Deus oferecer quanto
ao triunfo final do bem? Algum imprevisto pode acontecer a qualquer momento e
frustar todas as suas boas intenções ; e como poderemos manter a fé na oração
baseados nessa teoria ? Ainda mais, o fato de ser finito não livra Deus da
responsabilidade pelo mal mais do que o ponto de vista tradicional – nem tanto.
A maioria dos seguidores dessa teoria ensinaria que Deus cria, de alguma
maneira , embora fizessem da criação um processo eterno.Crendo que criar
envolve a necessidade do mal, eles não isentam Deus da responsabilidade de
criar um tal mundo. Ainda mais , a doutrina envolve a crença em um Deus ,
em desenvolvimento , em crescimento. Ele se torna cada vez mais bem
sucedido, talvez ele próprio se torne cada vez melhor. Mas isto é um
claro desrespeito às muitas indicações bíblicas de que Ele é perfeito e
imutável em sua sabedoria , poder, justiça, bondade e verdade e não satisfaz a
nossa idéia de Deus. E finalmente , ela ignora ou nega a existência de
Satanás , o inimigo supremo , que na Escritura é mostrado como muito
responsável pelo mal nos dias de hoje.
O Ponto
De Vista Deístico
Da mesma forma que o panteísmo afirma
a imanência de Deus às custas da suatranscendência,
também o deísmo afirma a transcendência de
Deus às custas da suaimanência. Para o deísmo, Deus
está presente na criação apenas através do seu poder não por sua própria pessoa
e natureza. Ele dotou a criação de leis invariáveis sobre as quais Ele
simplesmente exerce uma supervisão .Ele concedeu as Suas criaturas certas
propriedades, colocou-as sob Suas leis invariáveis e as deixou para que
estabeleçam seus destinos por seus próprios poderes. O deísmo nega uma
revelação especial, os milagres ,a providência. Ele afirma que todas as
verdades a respeito de Deus são descobertas pela razão , e que a Bíblia é
simplesmente um livro sobre os princípios da religião natural, que são
determinados pela luz da natureza.
O deísmo inglês surgiu como resultado
de quase dois séculos de controvérsia sobre questões religiosas . As
descobertas de Copérnico e os trabalhos de Francis Bacon também contribuíram um
pouco para sua ascensão. Lord Herbert, de Cherbury ( 1581-1648 ), é
conhecido como o pai do deísmo. Thomas Hobbes (
1588-1679 ), Charles Blount ( 1654-1693 ), Anthony Collins ( 1676-1729 ),
Matthew Tindal ( 1657-1733 ), Lord Bolingbroke ( 1678-1751 ) , e Thomas Paine (
1737-1809 ), foram deístas ingleses. Na França , o movimento deísta não
cresceu até um século após a sua ascensão na Inglaterra. Voltaire (
1694-1778 ) e Rousseau ( 1712-1778 ) podem ser classificados de deístas
franceses. Algumas teorias evolucionárias modernas são deísticas na sua
explicação do universo. O cristão rejeita o deísmo porque acredita que temos
uma revelação especial de Deus na Bíblia ; que Deus está presente no universo
em seu Ser bem como está em Seu poder ; que Deus exerce um controle
providencial constante sobre toda a Sua criação ; que Ele as vezes usa milagres
para o cumprimento de Seus propósitos ; que Deus responde orações ; e que os
deístas tiram muitos dos seus dogmas religiosos da Bíblia e não apenas da
natureza e da razão. Ele afirma que um Deus deístico , ausente , não é muito
melhor que não ter Deus nenhum.
A tri-
Unidade De Deus ( ² ** )
A doutrina da Trindade ( Tri-Unidade )
não é uma verdade da teologia natural , mas sim da revelação . Strong
diz: “ A razão nos mostra a Unidade de Deus ; apenas a revelação nos mostra a
trindade da Deus” Op. Cit., pág. 304. O mundo antigo tinha
suas Tríades , mas eram apenas distinções místicas e teológicas em seu
panteão de deuses . Todas essas noções não tem analogia com a doutrina
bíblica da Trindade ; nem servem tampouco para explicá-la ou para confirmá-la.
Apesar da doutrina da Trindade não poder ser descoberta pela razão
humana, ela é passível de uma defesa racional agora que ela foi revelada.
A palavra Trindade em si não ocorre na Bíblia . Sua forma grega, Trias ,
parece ter sido usada primeiro por Teófilo de Antioquia ( m.181 A.D. ), e
sua forma latina Trinitas , por Tertuliano ( m. em
torno de 220 A.D. ). Entretanto a crença na Trindade é muito mais antiga
que isso, como mostraremos presentemente .Com Trindade queremos dizer que há
três distinções eternas em uma essência divina, conhecidas respectivamente
como, Pai ,Filho e Espírito Santo. Estas três distinções são três
pessoas, e assim podemos falar da tripersonalidade de Deus. O Credo
Atanasiano expressa a crença trinitariana da seguinte maneira: “Adoramos
um Deus em trindade , e trindade em unidade , sem confundir as pessoas,
sem separar a substância”.
A doutrina da Trindade deve ser assim
diferenciada tanto do triteísmo como do sabelianismo.
O triteísmo nega a unidade da essência de Deus e afirma que há três
Deuses distintos. A única unidade que reconhece é a de propósito e
esforço. Mas já demonstramos que Deus é uma unidade de essência como de
propósito e esforço . O sabelianismo ( terceiro século ) afirmava uma
Trindade de revelação , mas não de natureza. Deus , afirmava , como Pai , é o
Criador e o Legislador; como Filho , Ele é o mesmo Deus encarnado que cumpre a
tarefa de Redentor ; e como Espírito Santo , Ele é o mesmo Deus na obra de
regeneração e santificação. Isto é ele ensinava uma Trindade modal,
diferente da Trindade ontológica. Lyman Abbott fala de
uma natureza tríplice de Deus da mesma maneira que uma pessoa pode ser
artista , professora e amiga. Mas isto é na realidade , uma negação da doutrina
da Trindade , pois essas não são três distinções na essência , mas três
qualidades da mesma pessoa.
Sabemos que a doutrina da Trindade é um
grande mistério. Algumas pessoas a consideram um quebra- cabeças intelectual e
uma contradição. Como pode haver, nos perguntam, um só Deus e, ao mesmo
tempo, três pessoas na Divindade? Mas Flint o diz muito bem: “ é
verdadeiramente um mistério ; no entanto é um mistério que explica muitos
outros mistérios , e que esclarece maravilhosamente a Deus a natureza e o homem”.
Robt. Flint, Anti-Theístic Theories ( Teorias
Anti-Teísticas ) ( Edinburgh: Wm. Blackwood and Sons,
1899 ), pág. 439. A opinião que se tem dessa doutrina afeta todas
as outras partes da crença teológica da pessoa e da religião prática. A
doutrina é portanto, não apenas um ônus sobre nossa credulidade , mas uma
necessidade prática para uma visão verdadeira do mundo e da vida.
Até a filosofia tem tido dificuldade com o conceito de Deus como uma
unidade absoluta. Na teoria dos eleáticos ela acabou transformando o mundo em
uma ilusão , um não-ser. Platão achou necessário acrescentar a idéia de
um na multiplicidade. E os Estóicos e Filo contribuíram com a idéia do Logos.
Mas, como dissemos , a doutrina cristã da Trindade não é , um fruto da
especulação , mas da revelação. Não poderíamos saber a respeito dessa
auto-distinção na Divindade se Deus não houvesse assim Se revelado.
A
Santíssima Trindade ( ³ ** )
O Pai incriado, o Filho incriado: o
Espírito incriado. O Pai incomensurável, o Filho incomensurável: o Espírito
Santo incomensurável. O Pai eterno, o Filho eterno: o Espírito Santo
eterno. E,mesmo assim, não são três eternos: mas um só eterno. A Trindade
é um mistério .A aceitação reverente do que não é revelado nas Sagradas
Escrituras faz-se necessário antes de se perguntar a respeito de sua natureza.
A glória ilimitada de Deus deve ser uma forma de nos conscientizar com
respeito a nossa insignificância em contraste com aquEle que é sublime e
“exaltado”. Nosso reconhecimento dos mistérios de Deus, especialmente da
Trindade , exige que abandonemos a razão? Nada disso. Na Bíblia , de
fato, há muitos mistérios , mas “ o cristianismo, como `como religião
revelada´, centraliza-se na revelação e a revelação (segundo a sua própria
definição ) torna manifesto em vez de ocultar”. A razão se vê diante de
uma pedra de tropeço quando confrontada pela natureza paradoxal da doutrina
trinitariana. “ Mas” , asseverou Martinho Lutero, de modo enérgico, “
posto que se baseie claramente nas Escrituras , a razão precisa conservar-se em
silêncio sobre o assunto; devemos tão somente crer”.
Por isso o papel da razão é o de auxiliar
, e nunca de dominar ( atitude racionalista ) , a entender as Escrituras,
especialmente no tocante à formulação da doutrina da Trindade. Não estamos ,
pois , tentando explicar Deus , mas sim, considerar as evidências históricas
que estabelecem a identidade de Jesus como homem e também como Deus ( em
virtude dos seus atos milagrosos e do seu caráter divino ) e, ainda , “
incorporara verdade que Jesus tornou válida no que diz respeito ao seu
relacionamento eterno com Deus Pai e com Deus Espírito Santo.” Historicamente ,
a igreja formulou a doutrina da Trindade em razão do grande debate a respeito
do relacionamento entre Jesus de Nazaré e o Pai. Três pessoas distintas –
o Pai , o Filho e o Espírito Santo – são manifestadas nas Escrituras como Deus
, ao passo que a própria Bíblia sustenta com tenacidade o Sh’ma judaico : “
Ouve , Israel , o SENHOR, nosso Deus , é o único SENHOR” ( Dt 6.4 ). A
conclusão , baseada nas Escrituras, é que o Deus da Bíblia é ( nas palavras do
Credo Atanasiano ) “ um só Deus na Trindade , e a Trindade na Unidade” . Isso
soa irracional? Semelhante acusação contra a doutrina da Trindade pode
ser, por si mesma , classificada de irracional: “ Irracional é suprimir a
evidência bíblica em favor da Trindade para favorecer a Unidade, ou a evidência
em favor da Unidade para favorecer a Trindade” . “Nossos dados devem ter
precedência sobre nossos modelos- ou, melhor, nossos modelos devem refletir de
modo sensível a gama inteira dos dados”.
Por isso , nosso olhar metodológico
deve estar baseado na Bíblia no que diz respeito á relação tênue entre a
unidade e a trindade para não polarizarmos a doutrina da Trindade num dos dois
extremos : o abuso das evidências em favor da unidade ( o que resultaria no
unitarianismo, ou seja : que reconhece em Deus somente uma única pessoa ) ou o
abuso das evidências em favor da triunidade ( o que resultaria no triteísmo –
três deuses separados ).
Uma análise objetiva dos dados bíblicos
no tocante ao relacionamento entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, revela
que essa grandiosa doutrina não é uma noção abstrata, mas, na realidade , uma
verdade revelada. Por isso , antes de considerarmos o desenvolvimento histórico
e a formulação da teologia trinitariana, examinaremos as evidências bíblicas
nas quais a doutrina se fundamenta.
Evidências Bíblicas
Para A Doutrina Da Trindade No Antigo Testamento
Deus, no Antigo Testamento , é um só
Deus, que se revela pelos seus nomes , pelos seus atributos e pelos seus atos.
Mesmo assim, o Antigo Testamento lança alguma luz sobre a pluralidade (
uma distinção de pessoas ) na Deidade: “ Façamos o homem à nossa
imagem,conforme a nossa semelhança” ( Gn 1.26 ). Que Deus não poderia
estar conversando com anjos , ou com outros seres não identificados , fica evidente
no no vesículo 27 que se refere à criação do homem “ a imagem de Deus” . O
contexto indica uma comunicação interpessoal divina , que requer uma unidade de
Pessoas na Deidade.Outras distinções pessoais na Deidade são reveladas nos
textos que se referem ao “ anjo do SENHOR” ( hb. Yahweh ).
Esse anjo é distinguido de outros anjos. É pessoalmente identificado com Javé
e, ao mesmo tempo, distinguido dEle ( Gn 16.7-13;18.1-21; 19. 1-28; 32. 24-30 .
Jacó diz: “ Tenho visto Deus face a face”, com referência ao anjo do Senhor
). Em Isaías 48. 16; 61. 1 ; e 63. 9,10 , o Messias fala . Numa
ocasião , Ele se identifica com Deus e com o Espírito em uma união pessoal com
os três membros da Deidade. Mas noutra ocasião, o Messias continua ( ainda
falando na primeira pessoa ) a distinguir-se de Deus e do Espírito.
Zacarias lança muita luz sobre o
assunto ao falar, em nome de Deus , a respeito da crucificação do Messias: “ E
sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o Espírito
de graça e de súplicas; e olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão
como quem pranteia por um unigênito ; e chorarão amargamente por ele, como se
chora amargamente pelo primogênito” ( Zc 12.10 ). Fica claro que o único
Deus verdadeiro está falando na primeira pessoa ( “mim” ) com referência a ter
sido “ traspassado”, mas Ele mesmo faz a mudança gramatical da primeira pessoa
para a terceira pessoa ( “ele” ) com relação aos sofrimentos do Messias pelo
fato de ter sido “traspassado” . A revelação da pluralidade na Deidade
fica bem evidente nesse texto bíblico. Assim saímos das sombras e
prefigurações do Antigo Testamento para a luz maior da revelação no Novo
Testamento.
Evidências Bíblicas Para
A Doutrina Da Trindade No Novo
Testamento
João começa o prólogo do seu Evangelho
com a revelação do Verbo: “ No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus
, e o Verbo era Deus” ( Jo 1.1 ). B.F. Westcott observa que,
aqui, João leva os nossos pensamentos para além do começo da Criação, no tempo,
para a eternidade. O verbo “era” ( Gr. Em, pretérito
imperfeito de eimi , “ ser” ) aparece três vezes
nesse versículo e, mediante todo o versículo, o apóstolo transmite a idéia de
que nem Deus , nem o Verbo ( Gr. Logos ), tem começo, sempre
existiram em conjunto, e assim continua. A segunda parte do versículo
continua : “E o Verbo estava com Deus [pros ton theon ]”.
O Logos existe com Deus, em perfeita comunhão , por toda a
eternidade. A palavra pros ( com ) revela o
relacionamento“ face a face” que o Pai e o Filho sempre compartilharam.
A frase final de João é uma
declaração nítida da divindade do Verbo: “ E o Verbo era Deus”. João
continua a revelar-nos que o Verbo entrou na História ( 1.14 ) como Jesus de
Nazaré, sendo Ele mesmo “o único Deus, que está ao lado do Pai”. E o
Verbo tornou o Pai conhecido ( 1.18 ). O Novo Testamento revela,ainda
que, pelo fato de Jesus Cristo ter compartilhado da glória de Deus desde toda a
eternidade ( Jo 17.5 ) , Ele é objeto da adoração reservada somente a Deus : “ Para
que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus e na terra , e
debaixo da terra , e toda língua confesse que Jesus cristo é o Senhor , para a
glória de Deus” ( Fp 2. 10,11; ver também Êx 20. 3; Is 45.23; Hb 1.8 ).
Foi através do Verbo eterno , Jesus Cristo, que Deus Pai criou todas as coisas
( Jo 1.3; Ap 3.14 ). Jesus se identifica como o soberano ” Eu Sou” ( Jo
8.58; cf. Êx 3.14 ). Em João 8.59, os judeus sentiram-se impulsionados a
pegar em pedras para matar a Jesus em virtude dessa reivindicação. Tentaram
fazer a mesma coisa mais tarde depois de haver declarado em João 10.30: “ Eu e
o Pai somos um”. Os judeus que o escutaram consideraram-no blasfemo: “ Sendo tu
homem , te fazes Deus a ti mesmo” ( Jo 10.33; cf. Jo 5.18 ).
Paulo identifica Jesus como o Deus que
provê todas as coisas: “ Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas
subsistem por ele” ( Cl 1.17 ). Jesus é o “Deus Forte” que reinará como Rei no
trono de Davi, e o tornará eterno ( 9.6,7 ). Seu conhecimento é perfeito e
completo. Pedro falou assim a nosso Senhor : “ Senhor , tu sabes tudo” ( Jo
21.17 ). O próprio Cristo disse: “ Todas as coisas me foram entregues por meu
Pai; e ninguém conhece o Filho , senão o Pai ; e ninguém conhece o Pai , senão
o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” ( Mt 11.27;cf. Jo 10.15
). Jesus agora está presente em todos os lugares ( Mt 18.20 ), e é
imutável ( Hb 13.8 ). Ele compartilha este título com o pai: “ o Primeiro
e o Último “ ( Ap 1.17; 22.13 ). Jesus é o nosso Redentor e
Salvador ( Jo 3.16,17;Hb 9.28; IJo 2.2). nossa Vida e Luz ( Jo 1.4 ), nosso
Pastor ( Jo 10.14; IPe 5.4 ), aquEle que nos justifica ( Rm 5.1 ), o que virá
em breve como: “ REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” ( Ap 19.16 ). Jesus
é a Verdade ( Jo 14.6 ) e o Consolador, cujo conforto e ajuda transbordam em
nossa vida ( IICo 1.5 ). Isaías também o chama nosso “ Conselheiro” ( Is 9.6 )
e Ele é a Rocha ( Rm 9.33; ICo 10.4 ). Ele é santo ( Lc 1.35 ) e habita
naqueles que lhe invocam o nome Rm10.9,10; Ef 3.17 ).
Tudo quanto se pode dizer a respeito de
Deus Pai , também pode ser dito a respeito de Jesus Cristo. “ Em Cristo
habita corporalmente toda a plenitude da divindade” ( Cl 2.9 ). “
Cristo... é sobre todos, Deus bendito eternamente” ( Rm 9.5 ).
Jesus de sua plena igualdade com o Pai: “ Quem me vê a mim vê o Pai...
estou no Pai , e o Pai está em mim” ( Jo 14. 9-11 ). Jesus reivindicava plena
divindade para o Espírito Santo: “ E Eu rogarei ao Pai , e ele vos dará outro
Consolador, para que fique convosco para sempre” ( Jo 14.16 ). Ao chamar
o Espírito Santoallon parakleton ( “outro ajudador
do mesmo tipo que Ele mesmo” ), Jesus afirmou que tudo quanto
pode ser afirmado a respeito de sua natureza pode ser dito a respeito do
Espírito Santo. Por isso a Bíblia dá testemunho da divindade do Espírito Santo
como a Terceira Pessoa da Trindade. O salmo 104.30 revela o Espírito
Santo como o Criador : “ Envias o teu Espírito, e são criados , e assim renovas
a face da terra “. Pedro se refere a Ele como Deus ( At 5.3,4 ), e o autor
da Epístola aos Hebreus chama-o “ Espírito Eterno” ( Hb 9.14 ) . A
exemplo de Deus , o Espírito Santo possui os atributos da Deidade . Ele
tem conhecimento de todas as coisas : “ O Espírito penetra todas as coisas,
ainda as profundezas de Deus... Ninguém sabe as coisas de Deus , senão o
Espírito de Deus” ( ICo 2. 10,11 ) . Ele está presente em todos os
lugares ( Sl 139.7,8 ) .
Embora o Espírito Santo distribua
dons entre os cristãos , Ele mesmo permanece sendo um “só” ( ICo 12.11 ) ; Ele
é constante na sua natureza . Ele é a verdade ( Jo 15.26 ; 16.13; IJo 5.6 ).
Ele é o Autor da Vida ( Jo 3.3-6 ; Rm 8.10 ) mediante o renascimento e a
renovação ( Tt 3.5 ) e nos sela para o dia da redenção ( Ef 4.30 ). O Pai é
nosso Santificador ( ITs 5.23 ) , Jesus Cristo é nosso Santificador ( ICo
1.2 ), e o Espírito Santo é nosso “ Conselheiro” ( Jo 14.16,26; 15.26 ) e
habita naqueles que o temem ( Jo 14.17; ICo 3.16,17; 6.19; IICo 6.16 ).
Em Isaías 6. 8-10 , o profeta indica que Deus está falando , e Paulo atribui
a mesma passagem ao Espírito Santo ( At 28.25,26). No que tange a isso ,
João Calvino observa: “ Realmente , onde os profetas Cristo e os
apóstolos as atribuem ao Espírito Santo [ cf. IIPe 1.21]”. Calvino
conclui: “ Segue-se, portanto, que quem é o autor preeminente das profecias é
verdadeiramente Jeová [ Yahweh ].
O conceito do Deus Trino e Uno
acha-se somente na tradição judaico –cristã”. Esse conceito não surgiu
mediante a especulação dos sábios desse mundo, mas através da revelação
outorgada passo a passo na Palavra de Deus. Em todos os escritos dos apóstolos
, a Trindade é implícita e tomada como certa ( Ef 1.1-14; IPe 1.2 ). Fica claro
que o Pai, o Filho e o Espírito Santo ,existem eternamente como três Pessoas
distintas, mas as Escrituras também revelam a unidade dos três membros da
Deidade.
As Pessoas da Trindade tem vontades
separadas, porém nunca conflitantes ( Lc 22.42; ICo 12.11). O Pai fala ao
Filho, empregando o pronome da segunda pessoa do singular: “ Tu és meu Filho
amado ; em ti tenho me comprazido” ( Lc 3.22 ). Jesus se oferece ao
Pai pelo Espírito ( Hb 9. 14 ). Declara que veio “não para fazer a minha
vontade , mas a vontade daquele que me enviou” ( Jo 6. 38 ). O nascimento
virginal de Jesus Cristo revela o interrelacionamento entre os três membros da
Trindade. O relato de Lucas diz : “ E, respondendo o anjo , disse-lhe :
Descerá sobre ti o Espírito Santo , e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a
tua sombra ; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho
de Deus” ( Lc 1.35 ). O único Deus é revelado como Trindade no batismo de
Jesus Cristo. O Filho subiu das águas , O Espírito Santo desceu como pomba . O
Pai falou dos céus ( Mt 3.16,17 ). Por ocasião da criação , a Bíblia
menciona o envolvimento do Espírito ( Gn 1.2 ). O autor da Epístola aos Hebreus
, porém, declara explicitamente que o Pai é o Criador ( Hb1.2 ), e João
demonstra que a criação foi realizada “ por meio do Filho” ( Jo 1.3; Ap
3.14 ). Quando o apóstolo Paulo anuncia aos atenienses que Deus “
fez o mundo e tudo que nele há” ( At 17.24 ), a única conclusão a que podemos
razoavelmente chegar ( juntamente com Atanásio) é que Deus é
“ um só Deus na Trindade , e a Trindade na Unidade”.
A ressurreição de Jesus Cristo é dentre
os mortos é outro exemplo notável do relacionamento dentro da Deidade
Trina e Una na redenção. Paulo declara que o Pai de Jesus Cristo
ressuscitou nosso Senhor dentre os mortos ( Rm 1.4; cf. IICo 1.3 ).
Jesus , contudo, declarou enfaticamente que ressuscitaria seu próprio corpo da
sepultura na glória da ressurreição ( Jo 2. 19-21 ). Noutro texto, Paulo
declara que Deus mediante o Espírito Santo , ressuscitou Cristo dentre os
mortos ( Rm 8.11; cf. Rm 1.4 ). Lucas coroa teologicamente a
ortodoxia trinitariana ao registrar a proclamação do apóstolo Paulo
aos atenienses de que o único Deus ressuscitou a Cristo dentre os mortos
( At 17. 30,31 ). Jesus coloca os três membros da Deidade no mesmo plano
ao ordenar aos seus discípulos: “ Ide , ensinai todas as nações, batizando-as
em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” ( Mt.28. 19) . O apóstolo
Paulo judeu monoteísta treinado pelo grande erudito Gamaliel , hebreu de
hebreus ; segundo a lei fariseu ( Fp 3.5), deu o carimbo definitivo
à teologia trinitariana , conforme revela sua saudação à igreja em Corinto: “ A
graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo
sejam com vós todos” ( II Co 13.14).
Os dados oferecidos pela Bíblia
levam-nos decididamente à conclusão de que , dentro da natureza do único Deus
verdadeiro , há três Pessoas, sendo que cada uma é co-eterna, co-igual e
co-existente. O teólogo ortodoxo subordina humildemente os seus
pensamentos sobre a teologia trinitariana aos dados revelados na
Palavra de Deus de maneira bem semelhante ao físico quântico ao formular a
teoria paradoxal das partículas de ondas:
“ Os físicos quânticos concordam
entre si que as entidades subatômicas são uma mistura de propriedades de
ondas ( W ), de propriedades de partículas (P ) , e de propriedades
quânticas ( h ). Os elétrons de alta velocidade , ao serem atirados
através de um filme metálico , ou de cristal de níquel ( como raios
catódicos rápidos ou até mesmo com raios –B ) , difratam como raios-X. Em
princípio o raio –B é igual a luz solar empregada em uma experiência de dupla
ranhura ou biprísmica . A difração é um critério de comportamento
semelhante a raios nas substâncias ; toda teoria clássica das ondas baseia-se
nisso. Além desse comportamento , porém , há muito tempo que os elétrons vem
sendo considerados partículas com cargas elétricas. Um campo
magnético transversal defletirá um feixe de elétrons e seu padrão
de difração . Somente as partículas comportam-se dessa maneira;
toda a teoria eletromagnética depende disso. Para explicar todas as
evidências , os elétrons devem ser tanto partículas quanto ondulatórios [
grifos nossos ]. Um elétron é um Pwh.
A analogia entre a Trindade e o Pwh
ilustra muito bem as precauções preliminares desse capítulo, ou seja :
embora o teólogo sempre deva esforçar-se por conseguir a racionalidade na
formulação teológica , ele também deve preferir a revelação às restrições
finitas da lógica humana. A Escritura , e tão-somente ela, é o ponto de partida
para a teologia da Igreja Cristã.
A Formulação
Histórica Da Doutrina
Embora Calvino estivesse falando de
outro assunto doutrinário, sua advertência é igualmente aplicável à formulação
trinitariana: “ Se alguém , sem muita autoconfiança tentar desvendar os seus
mistérios , não conseguirá satisfazer a sua curiosidade , e entrará em um
labirinto do qual não achará nenhuma saída”. De fato , a formulação
histórica da doutrina da Trindade é apropriadamente como um labirinto
terminológico, no qual muitos caminhos levam a becos sem saídas, a heresias.
Os quatro primeiros séculos da Igreja Cristã eram dominados por um único tema:
o conceito cristológico de Logos. Esse conceito é
exclusivamente joanino, se acha no prólogo do Evangelho de João e na sua
Primeira Epístola . A controvérsia eclesiástica daqueles tempos
focaliza-se na pergunta : “O que João quer dizer com o uso da palavra Logos?”
A controvérsia atingiu o seu auge no século IV, no Concílio de Nicéia ( 325
d.C. ).
No século II , os pais apostólicos
tinham uma cristologia pouco desenvolvida . O relacionamento entre as
duas naturezas de Cristo , a humana e a divina, não é claramente articulada em
suas obras. A doutrina da trindade aparece de forma subentendida nos seus
tratados de cristologia , porém não explícita. Os grandes defensores da
fé que havia na Igreja Primitiva ( Irineu, Justino Mártir ) referiam-se a
Cristo como Logos eterno. Nessa época porém , o conceito
do Logosparece ter sido entendido como um poder ou atributo de Deus
eterno de Deus que, de alguma maneira , inexplicável , habita em Cristo.
Um conceito de Logos eternamente pessoal, em íntima relação
como Pai, ainda não havia sido definido.
Irineu
Contra Os Gnósticos
Entramos no labirinto eclesiástico do
desenvolvimento histórico da teologia trinitariana, seguindo os passos de
Irineu . Ele era bispo de Lion na Gália , e discípulo de Policarpo que
por sua vez , era discípulo do apóstolo João. Em Irineu portanto , temos
um vínculo direto com a doutrina apostólica. Irineu começou a participar
de debates teológicos em fins do século II . É mais conhecido por causa dos
seus argumentos contra os gnósticos . Sua grande obra , Contra
Heresias , tem sido uma fonte primária de defesa contra as influências
espiritualmente malogradas do gnosticismo. Irineu encaminhou a Igreja ,
positivamente , ao declarar a unicidade de Deus, que é o Criador dos céus e da
terra. Seu compromisso com o monoteísmo protegeu a Igreja contra o
perigo do politeísmo, que a levaria a um beco sem saída. Irineu também
foi cauteloso no que se refere à especulação gnóstica quanto à maneira de
o Filho ter sido gerado pelo Pai.
Os gnósticos especulavam
continuadamente a respeito da natureza de Cristo e da sua relação com o
Pai. Alguns gnósticos classificavam Cristo no seu panteão de eões (
intermediários espirituais entre a Mente Divina e a Terra ) , e nisto ,
trivializaram a sua divindade. Outros ( docetistas ) negavam a humanidade de
Cristo , insistindo que Ele não poderia ter se encarnado ( apenas parecia ser
um homem ) e sofrer e morrer na cruz ( cf. Jo 1.14; Hb 2.14; IJo 4.2,3 )
. Irineu resistia fervorosamente os ensinos dos gnósticos mediante
uma cristologia desenvolvida de modo impressionante, enfatizando tanto a plena
humanidade de Jesus Cristo , quanto a sua plena divindade. Na sua defesa da
cristologia Irineu respondeu aos gnósticos com duas fases cruciais que
posteriormente reapareceram em Calcedônia : Filius dei filius hominis
factus : ( o Filho de Deus tornou-se filho do homem ), e Jesus
Christus vere homo , vere deus : ( Jesus Cristo , verdadeiro homem e
verdadeiro Deus ).
Declarações assim exigiam um conceito
pelo menos rudimentar do trinitarismo . De outra forma , a alternativa
teria sido o diteísmo ( dois deuses ) ou o politeísmo ( muitos deuses ) .
Declara-se , todavia , que Irineu subentendeu um “ trinitarismo econômico”.
Noutras palavras : “ Ele só lida com a divindade do Filho e do Espírito
no contexto da sua revelação e atividade salvífica , ou seja : no contexto da
economia ( plano ) da salvação”.
Tertuliano
Contra Praxeas
Tertuliano, “ bispo pentecostal de
Cartago” ( 160-230 d.C. ), fez contribuições de valor inestimável
para o desenvolvimento da ortodoxia trinitariana. Adolph Von Harnack ,
por exemplo , insiste que foi Tertuliano que preparou o terreno para o desenvolvimento
subsequente da doutrina ortodoxa trinitariana. O tratado de Tertuliano “Contra
Praxeas” , contém 50 páginas de polêmica vigorosa contra um certo Praxeas que
supostamente, introduziu em Roma a heresia do monarquianismo ou do
patripassianismo. O monarquianismo ensina a existência de um só Monarca ,
que é Deus . Por conseguinte , é negada a plena divindade do Filho e do
Espírito . No entanto , para preservar as doutrinas da salvação , os
monarquianos chegaram a conclusão de que o Pai, como Deidade , foi crucificado
pelos pecados do mundo. Essa é a heresia chamada patripassianismo . Por
isso , segundo Tertuliano disse a respeito de Praxeas: “ Ele tinha expelido a
profecia e introduzido a heresia, tinha exilado o Paracleto e crucificado
o Pai”.
Tertuliano informa-nos que, enquanto a
heresia de Praxeas varria a Igreja , os crentes de uma forma geral continuavam
vivendo na sua simplicidade doutrinária . Embora estivesse resoluto quanto a
advertir a Igreja contra os perigos do monarquianismo , entrou na controvérsia
em cima da hora , quando a heresia estava se tornando predominante no
pensamento dos cristãos . A tarefa de Tertuliano foi criar um meio por
onde fluíssem as implicações inerentes da teologia trinitariana na consciência
da Igreja . Embora Tertuliano seja tido como o primeiro erudito a empregar o
termo “Trindade” , não é correto dizer que ele “haja inventado” a doutrina ,
mas,que “ escavou” na consciência da Igreja e retirou daí os pensamentos
trinitarianos inerentes que já estavam presentes. B.B. Warfield comenta :
“ Tertuliano tinha de... estabelecer a divindade verdadeira e completa de
Jesus... sem criar dois deuses... E considerando o sucesso que
conseguiu nesse aspecto, deve ser reconhecido como o pai da doutrina
eclesiástica da Trindade”. Tertuliano torna explícito o conceito de uma “
Trindade Econômica” ( semelhante ao conceito de Irineu, mas com uma
definição mais explícita) Enfatiza a unidade de Deus , ou seja: que existe uma
só substância divina, um só poder divino – sem separação, divisão, dispersão ou
diversidade – há , porém, uma distribuição entre as funções , uma distinção
entre as Pessoas.
Orígenes
E A Escola Alexandrina
No século II a.C. , Alexandria , no
Egito , substituiu Atenas como centro intelectual do mundo greco-romano.
Posteriormente, academias cristãs floresceram nessa cidade. Alguns dos maiores
estudiosos da Igreja antiga pertenciam à escola alexandrina. A Igreja
avançou ainda mais através do labirinto teológico da formulação
doutrinária com o trabalho do célebre Orígenes ( 185-254 d.C. ) . A explicação
sobre a eternalidade do Logos pessoal foi feita pela primeira vez por
Orígenes. Com ele , começou a emergir a doutrina ortodoxa da Trindade , embora
não fosse cristalizada na sua formulação ( progredindo além do conceito
“econômico” de Tertuliano ) a não ser no começo do século IV no concílio de
Nicéia ( 325 d.C. ). Opondo-se aos monarquianos ( também chamados
unitarianos ) , Orígenes propôs sua doutrina da geração eterna do Filho (
chamada filiação ). Ligava essa geração à vontade do Pai, e assim subentendia a
subordinação do Filho ao Pai . A conclusão da doutrina da filiação
aconteceu não somente pelas designações “Pai” e “Filho” , mas também pelo
fato de o Filhoser chamado de modo consistente , “o Unigênito” ( Jo
1.14,18; 3.16,18; I Jo 4.9 ) .
Segundo Orígenes , o Pai gera
eternamente o Filho e, portanto, nunca está sem Ele. O Filho é Deus ,
porém Ele subsiste ( segundo a linguagem teológica posterior, que se relaciona
com a existência de Deus ) como uma pessoa distinta do Pai. O conceito
oferecido por Orígenes da geração eterna preparou a Igreja para entender que a
Trindade consiste em três Pessoas em vez de consistir em três partes.
Orígenes deu expressão teológica ao relacionamento entre o Pai e o Filho
( posteriormente afirmada no Concílio de Nicéia ) como homoousios
to patri: “ de uma só substância [ ou essência ] com o Pai”.
O modo de se entender a personalidade , essencial para a fórmula
trinitariana ortodoxa, ainda era imprecisa . O termo latim Persona ,
que significa “papel” ou “ator” , não ajudava no esforço teológico de se
entender o Pai ,o Filho e o Espírito como três Pessoas , em vez de meros
papéis diferentes de Deus. O conceito teológico de hypostases
, ou seja: da distinção de Pessoas dentro da Deidade ( em contraste com a
unidade de substância ou de natureza dentro da Deidade, chamada de
“consubstancialidade” e que se relaciona com a homousia ) ,
permitiu a formulação paradoxal da teologia trinitariana.
A doutrina de Orígenes a respeito da
geração eterna do Filho era uma polêmica contra a noção de que houvera um tempo
quando o Filho não existia. Seu conceito da “consubstancialidade” ressaltava a
igualdade entre o Filho e o Pai. No entanto, surgiram dificuldades no pensamento
de Orígenes por causa do conceito de subordinação apresentada na linguagem do
Novo Testamento, e da idéia do papel de submissão do Filho em relação ao Pai,
embora a plena divindade do Filho fosse ainda mantida. O que é crítico
para a nossa compreensão “ é entender a subordinação no sentido de que podemos
chamar de econômico”, e não num sentido que se relacione com a natureza da
própria existência de Deus. Por isso: “ O Filho submete-se à vontade do
Pai e executa o seu plano (oikonomia ) , mas não é por isso
inferior ao Pai na sua natureza. Orígenes era inconsistente na sua
formulação do relacionamento entre o Pai e o Filho, e às vezes apresentava o
Filho como um tipo de deidade de segunda categoria , distinto do Pai quanto a
sua Pessoa , mas inferior a Ele quanto à existência. Essa oscilação no tocante
ao conceito do subordinacionismo provocou uma reação maciça dos monarquianos.
O
Monarquianismo Dinâmico: A Primeira
Tentativa Fracassada
Os monarquianos
procuravam preservar o conceito da unicidade de Deus – a monarquia do
monoteísmo. Focalizavam a eternidade de Deus como único Senhor , ou Soberano,
em relação à sua criação. O monarquianismo em dois tipos diferentes :
Dinâmico e Modalístico. O Monarquianismo Dinâmico ( também chamado
de Monarquianismo Ebionita, Monarquianismo Unitariano ou Monarquianismo
Adocionista ) antecedeu o Monarquianismo Modalístico. O Monarquianismo
Dinâmico negava qualquer noção de uma Trindade eternamente pessoal. A escola
monarquiana dinâmica era representada pelos Alogi , homens que
rejeitavam a cristologia do Logos. Os Alogi baseavam
a sua cristologia exclusivamente nos Evangelhos Sinóticos , e repudiavam a
cristologia do Evangelho de João , porque suspeitavam que havia concepções
helenísticas no prólogo do seu Evangelho. Os Monarquianos Dinâmicos
argumentavam que Cristo não era Deus desde toda eternidade , mas que se tornara
Deus em certo momento do tempo.
Embora existissem diferenças de
opinião quanto ao momento exato determinado para a a deificação do Filho , a
opinião generalizada era que a exaltação do Filho ocorreu no seu batismo
quando, então , foi ungido pelo Espírito. Cristo, pois , mediante a sua
obediência , tornou-se o divino Filho de Deus . Cristo era considerado o Filho
adotivo de Deus ao invés de ser tido como o eterno Filho de Deus. O
Monarquianismo Dinâmico também ensinava que Cristo foi exaltado
progressivamente ,ou dinamicamente , à condição de Deidade . O
relacionamento entre o Pai e o Filho era percebido não em termos da sua natureza
e existência , mas em termos morais . Ou seja: não se considerava que o Filho
possuísse igualdade de natureza com o Pai ( homoousios: homo significa
“ idêntico” e ousios significa “ essência” ) . Os
Monarquianistas Dinâmicos postulavam que entre Jesus e os propósitos de Deus
existe um relacionamento meramente moral.
Um dos defensores antigos do
Monarquianismo Dinâmico era o bispo de Antioquia no século III , Paulo de
Samosata . Surgiu um grande debate entre a Igreja Oriental e a
Escola de Antioquiana , de um lado , e a Igreja Ocidental e a Escola
Alexandrina , de outro lado. O enfoque do debate era o relacionamento entre
o Logos e o homem Jesus. Harold O.J. Brown observa que a forma
que o adocionismo do Monarquianismo Dinâmico encontrou para conservar a unidade
da Deidade foi sacrificando a divindade de Cristo. O Monarquianismo
Dinâmico é, portanto, uma tentativa fracassada de sair do labirinto doutrinário
, que termina num beco sem saída , em uma heresia. Paulo de Samosata teve
Luciano como sucessor no Monarquianismo Dinâmico . o aluno mais destacado
de Luciano era Ário . Este estava por trás da controvérsia ariana que
resultou na convocação dos bispos em Nicéia e na elaboração do famoso
Credo Trinitariano ( 325 d.C. ) . Antes, porém, examinemos o segundo tipo de
Monarquianismo : o Modalismo.
O Monarquianismo
Modalístico : A Segunda Tentativa Fracassada
As influências principais que estavam
por trás do Monarquianismo Modalístico eram o gnosticismo e o
neoplatonismo. Os monarquianos modalísticos concebiam o Universo
como uma unidade , todo organizado , manifestado numa hierarquia de modos. Os
modos ( assemelhados à círculos concêntricos ) eram considerados vários níveis
de manifestações de realidade que emanavam de Deus , “ O Único” que existe como
“ existência pura” , como o Ser Supremo no ponto mais alto da escala
hierárquica ( influência neoplatônica ) . Os monarquianos modalísticos
ensinavam que a realidade diminuía-se à medida que uma emanação se distanciava
de “ O Único”, do qual emana , os modalistas consideravam que ela existia numa
forma inferior ( influência gnóstica ) . Pela proposição inversa,
pensava-se que a realidade aumentava ao progredir em direção a “O Único” (
também chamado a Mente Divina ).
É fácil ver as implicações panteísticas
desse conceito da realidade , posto que tudo quanto existe , supostamente tem
sua origem nas emanações ( modos ou níveis da realidade ) da essência do
próprio Deus . Alguns modalistas empregavam uma analogia do sol e dos
seus raios . Os raios solares são da mesma essência do sol , mas não são
o sol. Os modalistas supunham que , quanto mais longe os raios ficam do
sol , tanto menos são pura luz solar, e que embora os raios participem da mesma
essência do sol , são inferiores a este, sendo meras projeções dele. A
aplicação cristológica dessa cosmovisão identificava Jesus como uma emanação de
primeira ordem da parte do Pai , reduzindo-o a um nível abaixo do Pai no
tocante a natureza de sua existência ou essência. Embora Jesus fosse
considerado a mais sublime ordem de existência à parte de “O Único” , Ele não
deixava de ser inferior a ele , e dependia dele quanto à sua existência ,
embora fosse superior aos anjos e à raça humana.
Sabélio ( século III ) era o
maior defensor do monarquianismo modalístico, e o responsável pelo seu maior
impacto sobre a Igreja. Originando-se nele a analogia do sol e dos seus
raios, negou ser Jesus deidade no mesmo sentido eterno que o Pai o é. Essa
idéia levou ao termo teológico homoiousios. O prefixo homoi significa
“ semelhante” , e a raiz ,ousios , significa “ essência” .
Sabélio, portanto, argumentava que a natureza do Filho era apenas semelhante à
do Pai; não era portanto idêntica à do Pai. Sabélio foi condenado como
hereje em 268 , no Concílio de Antioquia . A diferença entre homo (
“idêntico” ) e homoi ( “semelhante” ) talvez pareça
trivial , mas a letra “i” é a diferença fundamental entre as implicações
panteísticas do sabelianismo ( não confundir Deus com a sua criação ) e a plena
divindade de Jesus Cristo,à parte da qual ficariam grandemente prejudicadas as
doutrinas da salvação. O Monarquianismo Modalístico , ao abandonar a
plena Divindade e Personalidade de Cristo e do Espírito Santo, foi também
uma tentativa fracassada de sair do labirinto doutrinário.
Arianismo:
A Terceira Tentativa Fracassada
Embora Ário fosse aluno de Luciano ,e,
portanto, participasse da linha do Monarquianismo Dinâmico proclamado por Paulo
de Samosata , foi além deles na complexidade teológica. Foi criado em
Alexandria , onde também foi ordenado presbítero pouco depois de 311, apesar de
ser um discípulo da tradição antioquiana . Nos meados de 318 , despertou a
atenção de Alexandre , o novo arcebispo de Alexandria . Este o
excomungou em 321 por causa de suas opiniões heréticas a respeito da
Pessoa ,da natureza e da obra de Jesus Cristo. Ário esforçou-se para ser
restaurado à Igreja , não por arrependimento , mas a fim de que suas opiniões a
respeito de Cristo se tornassem a teologia oficial da Igreja. Nesse
esforço procurou ajuda de alguns de seus amigos mais influentes , inclusive
Eusébio de Nicomédia e o renomado historiador eclesiástico Eusébio de Cesaréia
, bem como vários bispos asiáticos. Continuou ensinando sem a aprovação
de Alexandre. Suas especulações provocaram muitos debates e confusão na
Igreja.
Pouco depois da excomunhão de Ário,
Constantino passou a ser o único imperador de todo império romano.
Constantino ficou muito desgostoso ao descobrir que a Igreja estava vivendo
tamanho caos devido a controvérsia ariana que inclusive , ameaçava a
estabilidade política e religiosa do império. Apressou-se então a convocar o
primeiro concílio ecumênico, o Concílio de Nicéia , em 325. Ário ressaltava que
Deus Pai é o único Monarca e, portanto , que só Ele é eterno. Deus é “ ingênito”
, ao passo que tudo o mais , inclusive Cristo, é “gerado.” Ário
asseverava , incorretamente , que a idéia de ser “gerado” transmite o conceito
de ser criado. Ao mesmo tempo, deu-se o trabalho de separar-se das
implicações panteísticas da heresia sabeliana , ao insistir que Deus não
tinha nenhuma necessidade interna de criar. Disse também , que Deus criou
uma substância ( lat. Substantia ) independente, que Ele empregou para
criar todas as demais coisas . Essa substância independente , primeiramente
criada por Deus, acima de todas as outras coisas , era o Filho.
Ário propôs que a
incomparabilidade do Filho é limitada ao fato de ser a primeira e maior criação
de Deus . A encarnação do Filho é concebida , no pensamento ariano , como
a união entre a substância criada ( o Logos ) com um corpo humano .
Ensinava que o Logos ocupava o lugar da alma dentro do corpo humano de Jesus de
Nazaré.Harnack tem razão ao observar que Ário “ é monoteísta
rigoroso somente no que diz respeito à cosmologia; como teólogo é politeísta”.
Ário , noutras palavras , na cosmologia reconhecia uma única Pessoa
, que é Deus ; mas na prática estendia a adoração ( reservada para Deus somente
) a Cristo, o mesmo Cristo que declarara ( em outro contexto ) ter sido criado.
A cristologia de Ário reduzia Cristo a uma criatura e, como
consequência , negava a obra salvífica do Filho de Deus . Com isso , o
arianismo foi também uma outra tentativa fracassada de sair do labirinto
doutrinário. Pelo contrário , entrou por um corredor sem saída.
A
Ortodoxia Trinitariana: Saindo Do Labirinto
Trezentos bispos da Igreja Ocidental (
alexandrina ) e da Igreja Oriental ( antioquiana ) reuniram-se em Nicéia,
no grande conflito ecumênico , que procuraria definir com precisão teológica a
doutrina da trindade . O propósito do concílio era tríplice : (1)
esclarecer os termos usados para articular a doutrina trinitariana; ( 2 )
desmascarar e condenar os erros teológicos que estavam presentes em vários
segmentos da Igreja; e (3) elaborar um documento que estivesse em
harmonia com os princípios bíblicos e as convicções compartilhadas pela
Igreja. O bispo Alexandre estava pronto para a luta contra Ário .
Os arianos estavam confiantes de que seriam vitoriosos . Eusébio de Nicomédia
preparou um documento , no qual continham o ponto de vista defendido pelos
arianos, que foi, confiantemente , apresentado ainda no início do
conflito. Por ter negado a divindade de Cristo, provocou a indignação da
maioria dos presentes que, com firmeza , rejeitou o documento. Em seguida
, Eusébio de Cesaréia ( que não era ariano, embora fosse representante da
Igreja Oriental ) elaborou durante o debate um credo que se tornaria o modelo
para o Credo de Nicéia.
O bispo Alexandre ( e os alexandrinos
em geral) ficou muito preocupado com as opiniões de Ário, pois elas
poderiam afetar a salvação pessoal, caso Cristo não fosse
plenamente Deus no mesmo sentido que o Pai é . Para levar o homem à plena
reconciliação com Deus , argumentava Alexandre , Cristo forçosamente tem de ser
Deus . O bispo Alexandre reconhecia a linguagem da subordinação no novo
Testamento, especialmente as referências a Jesus como: “ Unigênito” do
Pai. Indicava que o termo “gerado” deve ser entendido do ponto de vista
judaico, pois os que empregavam o termo na Bíblia eram hebreus. O uso hebraico
do termo visa ressaltar a preeminência de Cristo. ( Paulo fala nesses
termos, empregando a palavra “ primogênito” não com referência a origem de
Cristo, mas aos efeitos salvíficos da sua obra de redenção ( ver Cl 1.15,18. ).
Alexandre respondeu a Ário , argumentando que a condição de o Filho ser o
Unigênito é antecedida nas Escrituras , conforme mostra João 1. 14 ( o Filho é
o Unigênito da parte do Pai ) , que indica que Ele compartilha da mesma natureza
eterna de Deus ( assim se harmoniza com a”geração eterna” do Filho,
segundo Orígenes ). Aos ouvidos de Ário , que não se retratou , isso
soava como um reconhecimento de que Cristo fora criado. Estava se
esforçando desesperadamente por livrar a teologia das implicações modalísticas
que , segundo as palavras que posteriormente atribuídas ao seu opositor
principal, Atanásio , incorriam no perigo de “ confundir as Pessoas entre si
“. Era, portanto, crucial fazer a distinção entre Cristo e o Pai.
O bispo Alexandre prosseguiu ,
declarando que Cristo é “gerado” pelo pai , mas não no sentido de emanação ou
criação . Teológicamente , o grande desafio da Igreja Ocidental era a
explicação do conceito de homoousia sem cair na heresia
modalística. Atanásio geralmente recebe o crédito de ter sido o grande defensor
da fé no Concílio de Nicéia . A parte maior da obra de Atanásio , porém ,
foi consumada depois desse grande concílio ecumênico. Atanásio era inflexível ,
e embora deposto pelo imperador em três ocasiões durante sua carreira
eclesiástica , lutava com valentia em favor do conceito de Cristo ser da mesma
essência ( homoousios ) que o Pai , e não meramente
semelhante ao Pai quanto à sua essência (homoiousios ) .
Durante o seu turno como bispo e defensor da ortodoxia ( conforme revelou ser )
, era praticamente “ Atanásio contra o mundo”. A escola alexandrina
acabou triunfando sobre os arianos, e Ário voltou a ser condenado e
excomungado. Na fórmula confessionária da doutrina da Trindade em
Nicéia, Jesus Cristo é o “ Filho Unigênito de Deus ; gerado de seu Pai antes da
fundação do mundo, Deus de Deus , Luz de Luz , Verdadeiro Deus de Verdadeiro
Deus ; gerado , não feito ; consubstancial com o Pai”.
Posteriormente a Igreja viria empregar
o termo “ proceder” em lugar de “geração” ou “gerado” , com o propósito de
expressar a subordinação salvífica do Filho ao pai. O Filho procede do Pai . Um
tipo de primazia ainda é atribuída ao Pai com relação ao Filho , mas essa
primazia não é cronológica; o Filho sempre existiu como o Verbo. Mesmo assim, o
Filho foi “gerado” pelo Pai ou “procedeu” do Pai, e não o Pai do Filho. Esse
“proceder” do Filho em relação ao Pai ( Já no século VIII , chamada “filiação”
) é entendido teológicamente como um ato necessário da vontade do Pai, de modo
que fique impossível existir o conceito do Filho não provindo do Pai. Daí
a “ procedência” do Filho estar eternamente no presente, um ato que perdura ,
nunca terminando. O Filho, portanto, é imutável ( não sujeito à mudança,
Hb 13.8 ) , assim como o Pai é imutável ( Ml 3.6 ). A filiação ,do
Filho, certamente , não é no sentido de ter sido gerada outra pessoa com a sua
divina essência , pois o pai e o Filho são igualmente Deidade e, portanto, da
“mesma” natureza indivisível. O Pai e o Filho ( com o Espírito ) existem
juntos em substância pessoal ( o Filho e o Espírito são pessoalmente distintos
do Pai na sua existência eterna ).
Embora a exposição das complexidades
linguísticas do Credo de Nicéia pareça frustante para nós hoje, levando-se em
conta a distância de 1600 anos , é importante considerarmos a necessidade
crucial de se manter a fórmula paradoxal do Credo de Atanásio : Um só Deus na
Trindade , e a Trindade na Unidade”. A exatidão teológica é crítica ,
pois os termos ousia, hupostasis, substantia e substência nos
oferecem um entendimento conceptual do que é a ortodoxia trinitariana , como no
caso do Credo de Atanásio: “ O Pai é Deus, O Filho é Deus, e o Espírito Santo é
Deus . E, porém , não são três deuses , mas um só Deus”. Entre 361-381 ,
a ortodoxia trinitariana passou por mais refinamentos , mormente no tocante ao
terceiro membro da Trindade , o Espírito Santo. Em 381 , em
Constantinopla , os bispos foram convocados pelo imperador Teodócio , e as
declarações da ortodoxia de Nicéia foram reafirmadas . Além disso, houve
menção explícita do Espírito Santo em termos de deidade , como o “ Senhor
e Doador da vida , procedente do Pai e do Filho; o qual , com o Pai e o Filho
juntamente é adorado e glorificado ; o qual falou pelos profetas”
O título “ Senhor” ( Gr.
Kurios ) , empregado nas Escrituras em alguns textos para atribuir e
explicitar a divindade , a divindade , é destinado aqui ( no Credo
de Nicéia – Constantinopla ) ao Espírito Santo . Logo , aquEle que
procede do Pai e do Filho ( Jo 15.26 ) subsiste pessoalmente desde a
eternidade dentro da Deidade , sem divisão ou mudança quanto à sua
natureza ( Ele é essencialmente homoousios com o
Pai e o Filho ).
As propriedades pessoais ( as operações
interiores de cada Pessoa dentro da Deidade ) atribuídas a cada um dos membros
da Trindade são assim entendidas : o Pai é ingênito; o Filho é gerado ; e o
Espírito Santo procede dEles. A insistência nessas propriedades pessoais
não é tentar explicar a Trindade , mas fazer a distinção entre as fórmulas
ortodoxas trinitarianas e as fórmulas heréticas modalísticas. As
distinções entre os membros da Deidade não se referem à sua essência ou
substância , mas ao relacionamento. Noutras palavras : a ordem de
existência na Trindade , no tocante ao ser essencial de Deus , está espelhada
na Trindade salvífica . “ São , portanto ,três , não na posição, mas no
grau ; não na substância , mas na forma ; não no poder , mas na sua
manifestação . O processo contínuo da pesquisa da natureza do Deus vivo
cede lugar , a essa altura , à adoração . Juntamente com os apóstolos , os pais
da Igreja , os mártires e os maiores teólogos no decurso da história da Igreja
, temos de reconhecer que “ toda a boa teologia termina com uma doxologia” (
cf. Rm 11.33-36 ) . Considere esse hino clássico de Reginald Heber
:
Santo! Santo! Santo! Deus Onipotente!
Tuas obras louvam teu nome com fervor
Santo! Santo! Santo! Justo e
Compassivo!
És Deus Triúno, excelso Criador!
A
Trindade E A Doutrina Da Salvação
As opiniões não-trinitarianas , tais
como o modalismo e o arianismo , reduzem a doutrina da salvação a uma charada
divina. Todas as convicções cristãs básicas que se centralizam na
obra da Cruz pressupõe a distinção pessoal dos membros da Trindade .
Refletindo , podemos perguntar se é necessário crer na doutrina da Trindade
para ser salvo. A resposta histórica e teológica é que a Igreja não tem
usualmente exigido uma declaração explícita de fé na doutrina da Trindade para
a pessoa ser batizada. Mas a Igreja certamente espera uma fé implícita no Deus
Trino e Uno como aspecto essencial do nosso relacionamento pessoal com os
papéis distintivos de cada uma das Pessoas da Deidade , na obra salvífica
em prol da humanidade. A doutrina da salvação ( inclusive a reconciliação
, a propiciação, a redenção, a justificação e a expiação ) depende da
cooperação dos membros distintivos do Deus Trino e Uno ( Ef 1. 3-14 ). Por
isso, renunciar deliberadamente a doutrina da Trindade ameaça gravemente a
nossa esperança de salvação pessoal.
As Escrituras incluem todos os membros
da raça humana na condenação universal do pecado ( Rm 3.23 ) , e por
isso, todos “ precisam da salvação ; a doutrina da salvação requer um salvador
adequado, ou seja: uma cristologia adequada . Uma cristologia sadia
exige um conceito satisfatório de Deus , isto é ,uma teologia especial e sadia
– que nos trás de volta à doutrina da Trindade. O conceito modalístico da
natureza de Deus deixa totalmente abolida a obra mediadora entre Deus e as
pessoas . A reconciliação ( IICo 5.18-21 ) subentende deixar de lado a
inimizade ou a oposição . Qual inimizade é deixada de lado? As
Escrituras que Deus está em inimizade contra os pecadores ( Rm 5.9 ) , e
que as pessoas nos seus pecados também estão em inimizade contra Deus ( Rm
3.10-18; 5.10 ) . O Deus Trino e Uno é revelado na Bíblia de modo
explícito na redenção dos pecadores e na sua reconciliação com Deus. Deus
“envia” o Filho ao mundo ( Jo 3.16,17 ) . À sombra do calvário , Jesus se
submete com obediência à vontade do Pai: “Meu Pai ,se é possível, passa de mim
esse cálice ; todavia, não seja como eu quero , mas como tu queres” ( Mt 26.39
).
O relacionamento sujeito-objeto
entre o Pai e o Filho fica claramente evidente aqui. O Filho suporta a
vergonha do madeiro maldito , trazendo a paz ( reconciliação ) entre Deus e a
humanidade ( Rm 5.1; Ef 2.13-16 ). Enquanto a sua vida se esgota
rapidamente do seu corpo , Jesus , no Calvário olha para o céu , e pronuncia
suas últimas palavras : “ Pai , nas tuas mãos eu entrego o meu espírito” ( Lc
23.46 ). Se duas pessoas distintivas não forem reveladas aqui, no ato salvífico
da cruz , esse evento seria uma mera charada de um único Cristo ( que só
poderia ser neurótico ). No Modalismo , o conceito da morte de Cristo como uma
satisfação infinita está perdido. O sangue de Cristo , é o sacrifício
pelos nossos pecados ( I Jo 2.2 ). A doutrina de propiciação tem a
conotação de aplacar ou evitar a ira mediante um sacrifício aceitável. Cristo é
o cordeiro sacrificial de Deus ( Jo 1.29 ). Por causa de Cristo , a
misericórdia de Deus é oferecida em vez da ira que merecemos por causa dos
nossos pecados . Sugerir , porém , como faz o Modalismo , que Deus é uma
só Pessoa e que faz de si mesmo a si mesmo uma oferta pelo pecado , estando Ele
ao mesmo tempo irado e misericordioso, deixa parecer que Ele é
caprichoso . Noutras palavras : a Cruz seria um ato sem sentido no
que diz respeito ao conceito de uma oferta pelo pecado.
O apóstolo João identifica Jesus como
nosso Paracleto ( ajudador ou conselheiro ). Temos ,
portanto, alguém que fala com o Pai em nossa defesa ( I Jo 2.1 ). Agir assim
pressupõe um Juiz que é diferente do próprio Jesus , antes de Ele desempenhar
semelhante papel . Porque Cristo é o nosso Paracleto: “ Ele é
a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos , mas também
pelos de todo mundo” ( I Jo 2.2 ). Temos, portanto, plena segurança da
nossa salvação porque Cristo , nosso ajudador , é também a nossa Oferta pelo
pecado. Jesus veio ao mundo não “ para ser servido , mas para servir e
dar a sua vida em resgate de muitos” ( Mc 10.45 ). O conceito de “resgate” e de
suas palavras cognatas nas Escrituras é usado com referência a um pagamento que
garante a libertação de presos. A quem Cristo pagou o resgate ? Se for
negada a doutrina ortodoxa da Trindade ( negando-se uma distinção entre as
Pessoas da Deidade , conforme o que quer o Modalismo ) , Cristo teria de ter
pago o resgate ou à raça humana ou a Satanás. Posto que a humanidade está morta
em transgressões e em pecados ( Ef 2.1 ), nenhum ser humano teria o
direito de exigir que Cristo lhe pagasse o resgate. Sobraria, portanto,
Satanás para fazer a extorsão de Cristo , em nível cósmico. Nós porém ,
nada devemos a Satanás . E a idéia de Satanás exigir resgate pela
humanidade é blasfêmia por causa das suas implicações dualistas ( a idéia de
que Satanás possui poder suficiente para extorquir de Cristo a própria vida
deste; ver João 10.15-18 ).
Pelo contrário: o resgate foi
pago ao Deus Trino e Uno para satisfazer as plenas reivindicações da justiça
divina contra o pecador caído. Tendo o Modalismo rejeitado o
trinitarianismo , a heresia modalística perverte, de modo correspondente , o
conceito da justificação. Embora mereçamos a justiça de Deus , somos
justificados pela graça mediante a fé em Jesus Cristo somente ( I Co 6.11 ).
Tendo sido justificados ( tendo sido declarados sem culpas diante de Deus )
mediante a morte e ressurreição de Jesus,somos , portanto,declarados
justos diante de Deus ( Rm 4.5,25 ). Cristo declara que o Espírito
é “outra” Pessoa distinta de si mesmo, porém do “mesmo tipo” ( allon, Jo 14.16
). O Espírito Santo emprega a obra do Filho no novo nascimento ( Tt 3.5 ),
santifica o cristão ( I Co 6.11 ) e nos dá acesso ( Ef 2.18 ), mediante o nosso
Grande Sumo Sacerdote, Jesus Cristo ( Hb 4. 14-16 ) , à presença do Pai ( II Co
5. 17-21 ). Um Deus que muda inteiramente seus atos é contrário à
revelação da natureza imutável do Todo-Poderoso ( Ml 3.6 ). Semelhante
modalismo é deficiente no que diz respeitoà salvação, pois nega a alta posição
sumo-sacerdotal de Jesus Cristo. As Escrituras declaram que Cristo é nosso
intercessor divino à destra de Deus , nosso Pai ( Hb 7.23; 8.2 ). Fica
claro que a doutrina essencial da expiação vicária , na qual Cristo
carregou nossos pecados na sua morte , depende do conceito trinitarariano
. O Modalismo subverte o conceito bíblico da morte penal e vicária de
Cristo como satisfação da justiça de Deus e, em última análise , anula a obra da
Cruz.
A cristologia ariana é condenada pelas
Sagradas Escrituras . O relacionamento entre o Pai , o Filho e o Espírito
Santo fundamenta-se na natureza divina que compartilham entre si, e que , em
última análise , é explicada em termos da Trindade. “ Qualquer que nega o
Filho também não tem o Pai; e aquele que confessa o Filho tem também o Pai” ( I
Jo 2.23 ). O reconhecimento apropriado do Filho requer fé na sua divindade ,
bem como na sua humanidade . Cristo, como Deus, é suficiente para
satisfazer a justiça do Pai; como homem, Ele cumpriu a responsabilidade
moral da humanidade diante de Deus. Na obra da Cruz , a justiça e a graça de
Deus nos são reveladas . A eterna perfeição de Deus e as imperfeições
pecaminosas da humanidade são reconciliadas mediante o Deus-Homem , Jesus
Cristo ( Gl 3.11-13 ). A herança ariana , na sua negação da plena divindade de
Cristo , está sem Deus Pai ( I Jo 2.23 ) e, portanto, sem nenhuma esperança de
vida eterna.
A
Necessidade Teológico-Filosófica Da Trindade
As propriedades ( qualidades inerentes
) eternas e a perfeição absoluta do Deus trino e Uno são decisivas para o
conceito cristão da soberania de Deus sobre a sua Criação . Deus ,sendo
Trindade , é completo em si mesmo ( soberano ) , e, consequentemente , a
criação é um ato livre de Deus , e não uma ação necessária de sua existência
. Por essa razão , “ antes de ‘no princípio’ existia algo diferente de
uma situação estática”. A fé cristã oferece uma revelação clara e
compreensível de Deus , proveniente de fora da esfera do tempo, pois Deus ,
como Trindade, tem desfrutado de eterna comunhão e comunicação entre suas três
Pessoas distintas. O conceito de um Deus pessoal e que se comunica ,
desde toda eternidade , está arraigado na teologia trinitariana. Deus não
existia em silêncio e de forma estática para então, um certo dia , optar por
romper a tranquilidade daquele silêncio e então falar. Pelo contrário : a
comunhão eterna dentro da Trindade é essencial para o conceito da
revelação. ( A alternativa de um Ser divino solitário que murmura de si
para si na sua solidão é um pouco inquietante. ) O Deus Trino e Uno tem
se revelado à humanidade , dentro da humanidade , de modo pessoal e
proposicional.
A personalidade de Deus , como Trindade
, também é a fonte e significado da personalidade humana . “ Sem
semelhante fonte “ , observa Francis Schaeffer , “sobra tão somente para
os homens uma personalidade que provém do impessoal ( com o acréscimo do tempo
e do acaso )”. Por toda a eternidade o Pai amava o Filho , o Filho amava
o Pai , e o Pai e o Filho amavam o Espírito. “ Deus é amor” ( I Jo 4.16
). Logo o amor é um atributo eterno. Por definição , o amor é
necessariamente compartilhado com outro , e o amor de Deus é um amor que fez
que com Ele doasse a si mesmo. Por isso , o amor eterno dentro da Trindade
outorga sentido real ao amor humano ( I Jo 4.17 ).
Excurso:
O Pentecostalismo Da Unicidade
No acampamento de Reavivamento Mundial
em Arroyo Seco de Los Ângeles , em 1913, surgiu uma séria controvérsia
. Durante um culto de batismo , o evangelista canadense R. E.
McAlister argumentou que os apóstolos não invocavam o Nome trino e uno – Pai
,Filho e Espírito Santo – no batismo , mas batizavam no nome de Jesus somente.
Durante a noite , John G. Schaeppe, um imigrante de Danzig ,
Alemanha , teve uma visão , e acordou o acampamento , gritando que o nome
de Jesus precisava ser glorificado . A partir de então , Frank J. Ewart
começou a ensinar que aqueles que tinham sido batizados
segundo a fórmula trinitariana precisavam do novo batismo que invocava
somente o nome de Jesus . Logo, outros começaram a espalhar a “
nova questão” . Juntamente com isso veio a aceitação de uma só
Pessoa na Deidade , agindo em modos ou cargos diferentes. O reavivamento em
Arroyo Seco acendera a centelha dessa nova questão. Em outubro de 1916 ,
O Concílio Geral Das Assembléias De Deus foi convocado em St. Louis com o
propósito de formar barricadas de defesa para proteger a ortodoxia
trinitariana. Os representantes da Unicidade viram-se diante de uma
maioria que lhes exigia que aceitassem a fórmula batismal trinitariana e a
doutrina ortodoxa de Cristo , ou deixassem a comunhão . Cerca de um
quarto dos ministros realmente se retirou . Mas as Assembléias De Deus
estabeleceram-se na tradição doutrinária da “ fé pregada pelos apóstolos ,
atestada pelos mártires , substanciada nos Credos , exposta pelos pais”, ao
lutar em favor da ortodoxia trinitariana. Tipicamente , o Pentecostalismo
da Unicidade declara: “ Não cremos em três personalidades separadas na Deidade
, mas cremos em três cargos preenchidos por uma só pessoa”.
A doutrina da Unicidade ( Modalística )
tem, portanto, o conceito de Deus como um só Monarca transcendente , cuja
unidade numérica é rompida por três manifestações contínuas feitas à humanidade
como Pai , Filho e Espírito Santo. As três faces do único Monarca são
realmente imitações divinas de Jesus , a expressão pessoal de Deus mediante a
sua encarnação . A idéia da personalidade exige, segundo os Pentecostais
da Unicidade , corporalidade e, por essa razão acusam os trinitarianos de
adotar o triteísmo. Pelo fato de Cristo ser “ corporalmente toda plenitude da
divindade” ( Cl 2.9) , os Pentecostais da Unicidade argumentam que Ele é
essencialmente a plenitude da Deidade indiferenciada. Noutras palavras :
acreditam que a tríplice realidade de Deus é “ três manifestações “ do único
Espírito habitando dentro da Pessoa de Jesus . Acreditam que Jesus é a
personalidade única de Deus, cuja “essência” como Pai no Filho e como Espírito
através do Filho”. Explicam, ainda, que a pantomima divina de
Jesus é “ cristocêntrica, porque Jesus, como ser humano,é o Filho, e que
como Espírito ( na sua divindade ) Ele revela – e realmente é o Pai e envia – e
realmente é o Espírito Santo como Espírito de Cristo que habita no cristão.
Já argumentamos que o sabelianismo do
século III é herético . Na sua negação das distinções eternas entre as
três Pessoas na Deidade , o Pentecostalismo da Unicidade acabou caindo no mesmo
erro teológico do Modalismo clássico . A diferença , conforme foi
declarado antes, é que os Pentecostais da Unicidade concebem a “
trimanifestação” de Deus como simultânea em vez de sucessiva – sendo esta
última a crença do modalismo clássico . Argumentam que , tendo por base
Colossenses 2.9 , o conceito da personalidade de Deus é reservado
exclusivamente para a presença imanente e encarnada de Jesus . Por
isso, os Pentecostais da Unicidade geralmente argumentam que a Deidade está em
Jesus, mas que Jesus não está na Deidade. Colossenses 2.9 afirma porém (
conforme a Igreja formulou em Calcedônia em 451 ), que Jesus é a “plenitude da
revelação da natureza de Deus “ ( theothêtos , divindade )
mediante a sua encarnação . A totalidade da essência de Deus está
incorporada em Cristo ( ele é plena deidade ) , embora as três Pessoas não
estejam simultaneamente encarnadas em Jesus . Embora os Pentecostais da
Unicidade confessem a divindade de Jesus Cristo , o que eles realmente
querem dizer é que Jesus, como Pai, é deidade , e como Filho , é humanidade. Ao
argumentarem que o termo “Filho” deve ser entendido como a natureza
humana de Jesus , e que o termo “Pai” é designação da natureza divina de
Cristo, imitam seus antecessores antitrinitários ( há muito tempo falecidos )
ao comprometerem as doutrinas da salvação .
É certo que Jesus declarou : “ Eu e o
Pai somos um” ( Jo 10.30 ). Mas isso não significa que Jesus e seu Pai sejam
uma só Pessoa ( conforme argumentam os Pentecostais da Unicidade ) , pois
o numeral grego neutro hen ( “um” ) é empregado pelo apóstolo
João em vez do masculinoheis . Logo, a referência é à união
essencial , e não a identidade absoluta. Conforme já foi declarado , a
distinção tipo sujeito-objeto entre o Pai e o Filho é revelada com grande
clareza nas escrituras, quando Jesus, na sua agonia , ora ao Pai (
Lc 22.42 ). Jesus também revela e defende a sua identidade ao apelar o
testemunho do Pai ( Jo 5.31,32 ). Jesus declara de modo explícito : “ Há
outro [ Gr. Allos ] que testifica de mim” ( v. 32 ). Aqui
, o termo allos denota , mais uma vez , uma pessoa diferente
daquela que está falando . Também em João 8. 16-18 , Jesus diz: “ E, se,
na verdade , julgo, o meu juízo é verdadeiro , porque não sou eu só , mas eu e
o Pai que me enviou. E na vossa lei está também escrito que o testemunho
de dois homens é verdadeiro. Eu sou o que testifico de mim mesmo, e de
mim testifica também o Pai que me enviou”. Aqui Jesus cita o Antigo
Testamento ( Dt 17.6; 19.15 ) com o propósito de revelar, mais uma vez , a sua
identidade messiânica ( como sujeito ) , apelando ao testemunho de seu
Pai ( como objeto ) a respeito do próprio Jesus . Insistir ( como
fazem os Pentecostais da Unicidade ) que o Pai e o filho são numericamente um
só, serviria apenas para desacreditar o testemunho que Jesus deu de si mesmo
como Messias.
Além disso , os Pentecostais da
Unicidade ensinam que, para a pessoa ser verdadeiramente salva , é preciso que
seja batizada “ em nome de Jesus” somente . Com isso dão a entender que
os trinitarianos não são cristãos verdadeiros . Nisso, os Pentecostais da
Unicidade incorrem no erro de colocar as obras como meio de salvação,
contrariando o que a Bíblia diz : a salvação pela graça , mediante a fé
somente ( Ef 2. 8,9 ). No Novo Testamento , encontramos por volta de 60
referências que falam da salvação pela graça somente mediante a fé ,
independentemente do batismo nas águas. Se o batismo foi um meio necessário à
nossa salvação , porque o Novo Testamento não enfatiza fortemente tal doutrina?
Pelo contrário : vemos Paulo dizendo: “ Cristo enviou-me não para batizar , mas
para evangelizar; não em sabedoria de palavras , para que a cruz de Cristo não
se faça vã” ( I Co 1.17 ). Deve ser mencionado , ainda , que Atos dos
Apóstolos não pretende preceituar uma fórmula batismal para ser utilizada
pela Igreja , pois a frase “ em nome de Jesus” não ocorre exatamente da mesma
maneira duas vezes em Atos. No sentido de reconciliar o mandamento de Jesus no
sentido de batizar “ em nome do Pai ,e do Filho , e do Espírito Santo” ( Mt
28.19 ) , com a declaração de Pedro: “cada um de vós seja batizado em nome de
Jesus Cristo” ( At 2.38 ) , consideraremos três explicações possíveis.
(1 ) Pedro desobedeceu ao mandamento
claro do seu Senhor . Isso, obviamente , nem é uma explicação , e deve
ser descartada por ser ridícula.
( 2 ) Jesus estava falando em termos
ocultos , que exigiriam algum tipo de perspicácia mística antes de ser possível
compreender seu sentido. Noutras palavras , Ele realmente estava nos
mandando batizar somente em nome de Jesus, embora alguns não percebam esse
significado velado de nosso Senhor. Não há, porém , a mínima
justificativa para se tirar tal conclusão. É contrária ao gênero específico de
literatura bíblica envolvida ( didático-histórico ) e também , pelo menos por
implicação , à impecabilidade de nosso Senhor Jesus Cristo.
( 3 ) Uma explicação melhor é
fundamentada na autoridade apostólica de Atos, no que diz respeito as
credenciais ministeriais dos apóstolos . Quando a frase “ em nome de Jesus Cristo”
é invocada pelos apóstolos em Atos , significa “ com a autoridade de Jesus
Cristo” ( cf. Mt 28.18 ). Por exemplo: em Atos 3.6 os apóstolos curam mediante
a autoridade do nome de Jesus Cristo. Em Atos 4, os apóstolos são convocados
para serem interrogados a respeito das obras poderosas que faziam: “ Com que
poder ou em nome de qurm fizestes isso? ( v. 7 ). O apóstolo Pedro cheio
do Espírito Santo , adiantou-se e proclamou corajosamente: “ Em nome de Jesus
Cristo , o Nazareno, aquele a quem vós crucificaste e a quem Deus
ressuscitou dos mortos , em nome desse, é que este está são diante de vós” ( v.
10 ) . Em Atos 16.18 , o apóstolo Paulo libertou , “ em nome de Jesus
Cristo” , uma jovem da possessão demoníaca.
Os apóstolos estavam batizando
,curando, libertando e pregando, mediante a autoridade de Jesus Cristo.
Conforme escreveu Paulo: “ E, quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei
tudo em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus pai” ( Cl 3.17
). Concluímos , portanto , que a declaração apostólica “ em nome de Jesus
Cristo” equivale a dizer : “ pela autoridade de Jesus Cristo”. Não
existe, portanto, nenhum motivo para acreditar que os apóstolos fossem
desobedientes ao imperativo do Senhor , que mandou batizar em nome do Pai
, do Filho e do Espírito Santo ( Mt 28.19 ), ou que Jesus estava usando
linguagem oculta , pelo contrário: no próprio livro de Atos , os apóstolos
batizavam pela autoridade de Jesus Cristo , em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo. A doutrina da Trindade é o caráter distinto da revelação
que Deus fez de si mesmo nas sagradas Escrituras . Fiquemos pois firmes em
nossa confissão de um só Deus “ eternamente existente em si mesmo... como
Pai, Filho e Espírito Santo”.
Para aqueles cujos corações tem sede do
Deus Vivo , e se aproximam de Deus com humildade e reverência , o Todo Poderoso
abrirá os seus infindáveis tesouros e os derramará copiosamente para
saciá-los abundantemente , pois o Pai quer se revelar aos seus filhos e tem
prazer naqueles que querem conhecê-lo com um coração puro e uma disposição
santa . Meu amado irmão em Cristo, se você é um desses bem aventurados , então
esse pequeno mas sólido estudo muito o ajudará.
Com Amor Em
Cristo
VeredariuS
Bibliografia
( 1 ) Teologia Sistemática
Stanley M. Horton
Casa Publicadora Das Assembléias De
Deus ( CPAD )
1ª Edição 1996 - pág.
126-128
( 2 ) O Novo Dicionário Da Bíblia
Editor organizador: J. D. Douglas
M. A., B. D., Ph. D.
Editor Da Edição Em Português
R. P. Shedd, M. A., B. D. , Ph.
D.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova
2ª Edição 1995 – Reimpressão
2003 - pág. 406
( 3 ) idem (2 ) pág.
406-407
( 1* ) idem (2 ) pág.407
( 2* ) idem ( 2 ) pág. 407-408
( 3* ) idem ( 1 ) pág. 141-151
( 1** ) Palestras
Introdutórias À Teologia Sistemática
Henry Clarence Thiessen B.D., Ph.D., D.D.
1ª Edição Em
Português - 1987 - pag. 34-43
( 2** ) idem ( 1** ) pág.
86-87
( 3** ) idem ( 1 )
pág. 157-187
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