Quando as igrejas pentecostais entraram
no Brasil no começo do século vinte a sociedade de então, era extremamente
conservadora, por isso a Igreja precisava ser mais conservadora ainda. Pois em
um País em que um catolicismo supersticioso e eivado de preconceitos reinava
Acima do bem e do mal , instilando o ódio contra qualquer tipo de manifestação
religiosa , mas principalmente contra os evangélicos , pois os mesmos eram de
índole pacífica e não revidavam as agressões ( Que foram muitas ; com templos
apedrejados ,crentes agredidos ,caluniados , etc. A história é fartamente
documentada , não é necessário detalhar.) então facilmente qualquer boato
poderia ser propagado contra os mesmos , a única saída era ter uma vida acima
de qualquer suspeita sendo um exemplo dentro da sociedade da época, em toda
forma de viver , e isto incluía assumir todos os bons costumes sociais da época
que não contrariassem a revelação bíblica.
Com essa estratégia de ação estabelecida sabiamente pela liderança
de então , a Igreja foi penetrando na sociedade progressivamente, até
chegar a expressividade que é hoje dentro da sociedade brasileira. Porém os
tempos mudaram e a sociedade evoluiu , modernizou-se e já não é tão
conservadora nos costumes. Essa mudança é natural na sociedade , porém esta novasituação
social abriu uma crise no meio evangélico , cujos líderes não souberam e
não estão sabendo como lidar com ela. Porque aquilo que no princípio era uma
questão de sobrevivência e uma estratégia de ação foi considerada a
partir de então como marcas de santidade pessoal e recebida como uma condição,
sine qua non, para se entrar no céu , o que ocasionou um desequilíbrio na
interpretação teológica em que se fundamenta a salvação pelo menos no meio do
povo leigo da igreja.
Quando eu digo : ``Povo leigo ´´, quero dizer aqueles que não
fazem parte do ministério, ou seja ,da liderança. Outrossim, a liderança
daquela época não tinha formação teológica e nem universitária, e
isso aconteceu porque`` Samuel Nystron e as demais lideranças
nordestinas eram contra a formação teológica em seminários´´( Entrevista
com o presbítero Gedeon Freire De Alencar,em : http://pentecostalismo.wordpress.com ).
Por isso as lideranças das Assembléias de Deus eram avessas ao estudo teológico
formal, eu mesmo tive um pastor na década de 70 , o pastor Bezerra , que sempre
dizia, que estudou teologia escondido pois isso era considerado uma coisa
errada, foi somente em 1979 que o pr. Bernhard Johnson fundou a EETAD , Escola
de Educação Teológica das Assembléias de Deus , com sede em Campinas SP. No
mesmo ano a Assembléia de Deus do Belenzinho abriu a FAESP, Faculdade
Evangélica de São Paulo , que no começo se chamava Escola Bíblica Permanente, mas
as lideranças já não tinham uma visão teológica unificada , cada um se virava
como podia, e isso desaguou em um tipo de individualismo teológico geral , onde
cada um tem uma interpretação particular.
Eu mesmo em congregações que passei durante a minha vida tenho ouvido
versões diferentes para uma mesma doutrina e conversando com diversos pastores
pude perceber que a visão teológica de um para outro é na maioria das vezes
totalmente diferente, isto se refletiu no ensinamento doutrinário para a
Igreja. Esta situação produziu um fenômeno em que cada congregação seja grande,
média ou pequena sejam doutrinariamente diferentes no que se refere aos usos e
costumes , geralmente as grandes são mais liberais , as médias são em parte
liberais e em parte conservadoras e as pequenas são conservadoras e isto é uma
constatação prática não é necessário um estudo para isso pode ser verificado in
loco , então cada Igreja vai ter o perfil do seu dirigente.
Não existe uma diretriz padrão na prática, mas por incrível
que pareça ela existe apenas na teoria. O presbítero Gedeon Freire De Alencar
da Igreja Assembléia de Deus Betesda de São Paulo em sua entrevista citada no
link acima diz que o problema da liberalização dos costumes tem a ver com
questões econômicas, pois só nas igrejas das periferias existe o
conservadorismo nos costumes pois a partir do momento em que existe um
aburguesamento da igreja na classe média para cima ninguém segura mais, a
doutrina. Então
pelo que podemos ver só os pobres são conservadores.
Tudo isso que eu tenho mostrado até aqui é apenas uma análise
geral do que aconteceu e está acontecendo hoje. A questão é: Onde está o ponto
de equilíbrio? Ele deve estar no que Deus disse para Josué em Jos. 1. 7 , ``Não
te desvie nem para a direita nem para a esquerda...´´, como podemos ver o ponto
certo está no centro , em épocas passadas havia muito exagero ,porém a Igreja
era mais formatada, pelo menos se sabia quem era crente e quem não era ; hoje a
não ser em raríssimas exceções isso já não é mais possível , no passado os evangélicos
históricos diziam que , a salvação não dependia de usos e costumes então isso
era uma doutrina totalmente irrelevante e também que as pessoas que guardavam
esses costumes na sua grande maioria eram hipócritas pois se preocupavam com o
exterior , enquanto que eles que não se preocupavam com o exterior eram
verdadeiros por dentro.
Hoje
os próprios pastores pentecostais estão usando este mesmo argumento surrado, para justificar a
suas inclinações para o liberalismo exacerbado que se vê nas igrejas
pentecostais. E isso hoje está chegando a tal ponto que os próprios evangélicos
históricos estão se sentindo conservadores. Agora uma coisa que eu nunca
entendi é porque esta ojeriza pelos bons costumes conservadores assumidos pela
Igreja, como se a Igreja não tivesse o direito de estabelecer normas para
aqueles que voluntariamente, quisessem fazer parte do seu rol de
membros.
Interpretando
isso , que é uma atribuição justa e honesta , como se fosse uma ingerência nas
vidas das pessoas; ora todos nós sabemos que qualquer pessoa que faça parte de
um clube ou uma agremiação secular precisa concordar com as normas e regras que
existem em todas elas e ninguém acha isso uma ingerência na sua vida
particular, porque então essa intolerância e preconceito com a Igreja ? Partindo
desse princípio vamos desmontar esses dois argumentos surrados:
1.
Que aqueles que andam de uma forma conservadora são
hipócritas e fariseus.
Em
primeiro lugar, uma das piores formas de preconceito tendencioso e ignorante é
generalizar uma comunidade inteira pelo comportamento de alguns, em todos os
segmentos sociais existem pessoas boas e sinceras que felizmente são a maioria
mas, também tem uma minoria que é falsa e hipócrita , por isso temos que julgar
pela reta justiça e não segundo o que achamos.
2. Que aqueles que andam de forma liberal conforme o curso deste mundo
são sinceros e fiéis.
Este
argumento surrado e persistente é semelhante ao primeiro em que se toma a parte
pelo todo, ora em todos os segmentos sociais não existe esta uniformidade e
quem tenta forçar esta interpretação é no mínimo desonesto.
Agora
vamos analisar as implicações dessas coisas: Quando uma pessoa recebe ao Senhor
Jesus Cristo como Salvador, ele torna-se filho de Deus Jo. 1. 12 ,e ao mesmo
tempo torna-se uma nova criatura II Cor. 5. 17. Nessa
nova ordem de criaturas, a principal característica é a disposição para a
obediência, I Ped. 1. 2 , então quando uma pessoa verdadeiramente
está nesse nível espiritual a sua disposição para a obediência é uma coisa
muito natural, porém quando uma pessoa que aparentemente é convertido já começa
a ser contradizente em relação as normas doutrinárias da Igreja é bem provável
que o mesmo nunca teve um encontro com o Salvador.
Em
um caso como esse o pastor que é verdadeiramente um pastor nunca irá mudar a
doutrina para agradar uma velha criatura mas fará todo o possível que aquela
velha criatura seja transformada em uma nova criatura.
Por
outro lado se a doutrina não tiver um foco bíblico e bem claro nos seus
objetivos ela pode tornar-se incômoda e sem sentido, por exemplo há uma igreja
pentecostal , que não permite que os seus membros masculinos usem calças jeans,
que segundo o seu líder é pecado ... , este é um tipo de doutrina que não tem
uma objetividade bíblica, tendo apenas sentido na mente do seu originador, por
isso mesmo totalmente subjetiva.
Agora
vamos analisar outro tipo clássico de doutrina: Porque
a Igreja proíbe a bebida
alcoólica? Em primeiro lugar o apóstolo Paulo diz
taxativamente em ICor. 6.12, que todas as coisas são lícitas ao cristão, mas...
nem todas nos convém..., então ser lícito é uma coisa; ser conveniente é outra
bem diferente. No caso da bebida tem um agravante muito sério, nas igrejas tem
pessoas que são oriundas do alcoolismo, se as mesmas tiverem qualquer contato
com a bebida novamente não poderão controlar o condicionamento químico e
psicológico que a bebida lhe impôs por muitos anos , então a sua segurança
depende de os mesmos ficarem longe da bebida pelo resto das suas vidas. Então
como lidar com isso na Igreja, pois na mesma também tem pessoas que nunca
tiveram problemas com a bebida, porque punir essas
pessoas de tomar o seu aperitivo ou o seu vinho?
O
que ocorre é que a Igreja então estabelece uma Aliança com
todos os seus membros em que os que nunca tiveram problemas com bebidas abrem
mão do seu direito de beber para que com seu exemplo os mais fracos sejam
fortalecidos e protegidos e então não sejam destruídos, uma vez que é
estabelecida uma Aliança e todos concordam, Ela não pode mais
ser quebrada sob pena de punição, então esta doutrina foi baseada no amor pelos
mais fracos e a renúncia dos mais fortes foi voluntária e também baseada
no amor . Isso significa que a Igreja não proíbe os
seus membros de beber, mas a Aliança sim.
Posto
isso podemos concluir que toda a doutrina da Igreja deve ter esse objetivo e os
pastores deveriam ter a capacidade de explicar ao povo o porque de cada
doutrina se isso estivesse sendo feito o povo consciente do valor da Aliança estariam
prontos para obedecer alegremente . Mas infelizmente o que vemos são líderes
que só sabem dizer que é pecado isso e aquilo e não conseguem passar
credibilidade ao povo. O ensinamento doutrinário
é uma coisa linda e sublime quando feita por alguém
que tem esse dom, o que hoje é uma coisa muito rara, infelizmente.
Com
amor em Cristo
VeredariuS
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